INVERNOS- Maria Alice Ferreira da Rosa

 

“... E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível.” (Ruben Alves)
“Não é inverno, ainda...”, alguém vai dizer.
E eu respondo: “quem disse que não?”
Porque inverno não é apenas uma estação do ano, quase desconhecida aqui nesse país tropical. Inverno é uma estação da alma. Inverno é uma estação da vida.
Quando nos condenaram a esse isolamento social, colocaram-nos no inverno social.
Quando deixamos de voar porque precisamos de outra asa para formar um par, estamos no inverno afetivo.
Quando mais do que sozinhos, estamos sem a pessoa que amamos e queremos a osso lado, nossa alma está no inverno.
E, por fim, quando a juventude já ficou muito longe, a maturidade também se foi, juntamente com as forças e as ilusões, já não somos mais capazes de sonhar, estamos no inverno da vida.
Quantas vezes derrapamos, tropeçamos, caímos na vida. Mas continuamos. De algum lugar insuspeito tiramos as forças e retomamos a luta. Por nós, por alguém, por outros.
Não podemos parar na queda e continuar caídos, ou seremos tragados pela crueza do existir.
Então sempre nos levantamos. E nossa força não reside em não cair. Mas em se levantar depois da queda e seguir adiante.
Quedas reais e figuradas.
Em minha vida, mais figuradas do que reais. Mas quedas. Algumas feias. Que machucaram muito. Deixaram cicatrizes – feias tatuagens na alma, que era tão delicada.
Leio novamente essa frase do insuperável Rubem Alves.
E penso, que, realmente, sempre descobri um novo verão dentro de mim.
Por isso segui em frente. Por isso estou aqui. Em pleno inverno da vida, descobrindo, ainda invencíveis verões.
Mas, para atingir esses verões, terei de passar, com toda a paciência, por outras primaveras.



*Crônica de Maria Alice Ferreira da Rosa, em destaque, na página 6, da 63a. 
Revista Ponto & Vírgula (abril/maio/junho/2023)


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