Durante
meses eu tomava um café da tarde, quase ajantarado numa padaria que ficava no
caminho de um compromisso que tinha ao sair do trabalho semanalmente.
Sentava
numa mesinha, pedia leite com chocolate e pão com manteiga.
Naturalmente
frequentando aquela padaria pelo menos uma vez na semana fiquei a conhecer e a
me acostumar com os fregueses que por ali faziam suas compras naquele horário.
O
moço da bicicleta que ainda de uniforme parava e comprava uma esfirra. O senhor
que comprava pão, leite e um maço de cigarro.
A moça com o filhinho no colo depois andando passava para pegar pão,
mortadela e uma garrafa de refrigerante. E uma respeitável senhorinha puxando
um carrinho de feira que comprava sempre um pudim.
Mas
algo me encabulava.
Quando
a velhinha chegava apenas a dona da padaria quem se destacava para atendê-la.
As outras atendentes esperavam e chamavam pela D.Lúcia.
E
cordialmente a senhorinha escolhia o maior pudim, aqueles de leite condensado
com calda de açucar caramelado e pacienciosamente D.Lúcia embrulhava em um
papel diferente dos da padaria. Pegava um papel pardo e delicadamente fazia o
pacote.
A
senhorinha agradecia e se encaminhava para o caixa.
Um
dia resolvi botar fim á minha pulga que teimava em ficar atrás da orelha:
-D.
Lucia, porque mesmo a senhora não embrulha no papel da padaria o pudim daquela
senhorinha?
-Ah
menina, quer mesmo saber porque? É que ela vende pedaços do pudim no bairro
dela. Ela não quer mostrar que compra na padaria. Então ela fez um pedido para
que eu sempre embrulhe em um papel diferente para ninguém descobrir seu
segredo.
Não
tive palavras, aliás nem deveria ter. Afinal era um segredo, mas mais que isso,
era um pacto entre D.Lúcia e a senhorinha vendedora de pudim.
Achei
no mínimo interessante seus pudores, de
querer sobressair perante a vizinhança fazendo promessa com os joelhos
de outra.
Mas
preferi não me pronunciar diante de tal pacto. Afinal, era seu ganha-pão. Ou
melhor: ganha-pudim!!!!
Comentários
Enviar um comentário