A violinista- Heloísa Martins Alves


Em 1920, Paris estava efervescente. Na Rue du Bosque nasceu a linda Emanuelle Lacroix  filha de madame Emma e monsieur Vicent Lacroix. Seu pai era um professor de música; sua mãe, escultora, pintora e atriz.
Emanuelle cresceu no meio das artes. Sua casa era frequentada por artistas, músicos e escritores. Desde muito pequena, demonstrava o seu amor e sua habilidade para a música. Seu instrumento predileto: violino.
Aprendeu com o seu pai monsieur Vicent Lacroix as primeiras notas musicais e a leitura das partituras.
A facilidade impressionava a todos. Tão pequena e com tanto talento.
Quando teve a primeira oportunidade de contato com o violino, chorou de emoção ao pegar o instrumento em sua mãozinha pequena e delicada. A joia mais rara, um Stradivarius, o violino dos sonhos!
Emanuelle tocou a sua primeira música composta por ela aos 7 anos de idade. A Valsa das bailarinas. Foi um sucesso e gravou o seu primeiro disco.
Seus pais se orgulharam. Seu primeiro concerto foi na Catedral de Notre Dame,  uma participação no concerto do monsieur Lanvin, como convidada .
Emanuelle foi crescendo e tornou–se uma linda mulher, cabelos ruivos encaracolados, olhos negros, pele muito alva. Quando completou 15 anos, seu pai faleceu. A família começou a passar dificuldades. Ela não podia mais dedicar-se aos seus estudos e sua mãe ficou doente e precisando de ajuda.
Houve uma reviravolta na vida da jovem artista. Seus sonhos começaram a desmoronar. Precisava trabalhar. Sua mãe, quando atriz, conhecera monsieur Hugo Vancliff, um senhor poderoso que sempre se encantara com Emanuelle.
Sua mãe entregou-a ao monsieur Hugo Vancliff, um magnata que resolvia os problemas das indústrias em Paris. Nesta época, La Defénse começava a se desenvolver. Emanuelle começou a estudar com os melhores professores e se tornou uma concertista virtuosa. Monsieur Vancliff passou a viver com ela. A esposa de Hugo Vancliff foi para Espanha. Emanuelle começou a se apresentar em todos os teatros.
Sua consagração foi no Opéra de Paris. Ela não era feliz, não entendia como uma mãe entregara a filha a um homem muito mais velho, praticamente a vendera por um tratamento e para equilibrar a sua vida. Emanuelle viajava pelo mundo todo e apesar do luxo em que vivia, era explorada tanto sexualmente como no seu trabalho, não tinha direitos, seus contratos eram feitos por Vancliff que nada lhe dava. Monsieur Vancliff a trazia prisioneira, fechada dentro de casa. Só saía para as compras acompanhada, não podia fazer nada.
O tempo foi passando até que a primeira briga aconteceu aos 21 anos, no apartamento da Avenue Montaigne. Uma briga muito feia, ela reclamando de tudo... nunca mais vira sua mãe, não tinha liberdade e não tinha acesso ao dinheiro que ganhava nos concertos. Ele olhava para ela e gritava. Ela, num ímpeto, pegou uma faca que estava no armário e o feriu gravemente. Ele, cambaleando, tentou tirar a faca de suas mãos e nessa luta corporal acabou ferindo-a também. Os dois feridos... Ela menos e ele padecendo de imensa dor. Ela ligou para o hospital e pediu uma ambulância para socorrê-los.
Monsieur Vancliff foi internado e operado no Hôpital Saint-Antoine.
A polícia quis saber o que havia acontecido e ela disse que fora um acidente. Como monsieur Vancliff era uma pessoa muito influente e conhecido, as manchetes dos jornais Le Figaro, Le Monde, La Depeche eram: “A Violinista tentou matar seu empresário.” Abriu-se um inquérito mas Emanuelle foi inocentada.
Conclusão: fatalidade. Emanuelle exigiu todos os seus direitos. Com o dinheiro que ganhou com o seu trabalho, passou a viver em um apartamento na Avenue Champs- Èlisée. Começou a viver a sua vida. Voltou aos palcos, conheceu um novo empresário. Porém, desiludiu-se e nunca conheceu o verdadeiro amor. Sempre que via a cicatriz que ficara no seu braço, relembrava o dia fatídico da briga com a faca. Aquela cicatriz também estava impregnada na sua alma. Era a que doia mais.
Quando estava em tournée, conheceu um diretor de cinema no avião que se impressionou com a sua beleza, talento, com o mistério dela com Vancliff e quis saber tudo o que realmente havia acontecido. Emanuelle contou e ele fez um filme de sua vida.
 Vancliff ficou enlouquecido, não queria ter a sua vida exposta mais uma vez. Essa fora a vingança de Emanuelle que nunca amou, teve uma vida de rainha, muito sucesso mas nunca fora livre. Mesmo tendo lutado pela sua liberdade,  estava presa, contida nela mesma.

Seu único amor: a música e o violino Stradivarius, presente de seu pai.




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