Amor e Luz- Aldair Barbosa Simões Gomes



                         “Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.” (Rubem Alves)                                                  

                 Hoje, revisitando a longa estrada percorrida, mergulhei fundo no baú das recordações, invadiu-me saudade imensurável de tudo que marcou a minha vida... Saudade das pessoas, das vozes, dos retratos, das flores, dos perfumes, dos cheiros, dos lugares, dos acontecimentos, do canto do galo nas madrugadas, do ranger triste do carro de boi carreando cana para o engenho da Fazenda Oncinha. Saudade do Rio Doce que marcou minha infância e adolescência...
                 Sinto, ao meu redor, a natureza sempre inflada de pontes de memória, a levar-me a eventos vividos num passado remoto. Com nostalgia, algumas vezes, evoco os anos felizes em Resplendor/MG Terra Natal de meu pai e de todos nós seus filhos: Alda, Aldair, Antônio de Pádua, Alvim Barbosa e Arlete.
                À época de nossa infância e adolescência, Resplendor era apenas um povoado bucólico e tranquilo, que se desenvolvia rapidamente, ao redor da Estrada de Ferro Vitória a Minas e da Igreja de Santa Aninha. Banhado pelo extenso Rio Doce, gigante de águas tranquilas (antes da destruição da SAMARCO MINERADORA) que o divide em SUL e NORTE, circundado por imensas rochas, por altas e sinuosas montanhas recobertas por matas verdejantes proporcionando uma visão de alumbramento poético.
                Em primeiro de maio de 1908 deu-se a inauguração da Estação Ferroviária que recebeu o nome de Resplendor, em homenagem a um “CÍRCULO DE LUZ” que emana de um MONÓLITO existente à margem esquerda do caudaloso Rio Doce. Essa imensa PEDRA, fora denominada pelos desbravadores desse chão mineiro: PEDRA DO RESPLENDOR, devido ao intenso brilho que irradia.
                Meu avô, ANTÔNIO ELIAS BARBOSA, foi um dos desbravadores desse rincão mineiro; tornou-se fazendeiro no CÓRREGO DA ONÇA, região rural, muito próxima a Resplendor, constituiu uma bela família, casou-se com Maria Francisca, com quem teve cinco filhos. Meu pai era seu segundo filho. Seu nome era Alvino, mas naquele povoado mineiro, sua Terra Natal, todos o conheciam por VICO. VICO, um ser humano super especial!
                 “Ora (direis) ouvir estrelas.” Assim falou o poeta BILAC. Da varanda do meu apartamento, ouço em silêncio, milhares de estrelas, mensageiras de Luz, numa conversa muda com uma estrela especial, reluzente, onde se encontra minha amada  mãe a iluminar as páginas da minha memória.
                Mergulhada na travessia, chego até a minha infância, alegre e feliz percorro a FAZENDA ONCINHA onde vivi alguns anos indeléveis, junto à minha incrível família, meus pais ALVINO E APARECIDA, e meus irmãos e minhas irmãs, todos muito amados.
                O maravilhoso da vida é que há pessoas que marcam. Há pessoas que ficam para sempre. No meu universo ficou, como símbolo de amor e dignidade, a presença de um grande homem: meu pai, criatura notável, única. Homem bom. Homem simples. Homem da Terra, do Trabalho e da Família. “Um Quixote perito em enfrentar os mais perigosos moinhos de vento.”
                Tenho dele as melhores e mais preciosas lembranças, herança de bom caráter, de imensa generosidade...
                Com permissão da terna poetisa RITA MOURÂO, transcrevo seu poema DOAÇÃO, retrato fiel da personagem de meu pai no seu semear pela FAZENDA ONCINHA, pela qual ele nutria um amor grande e mudo...
        “Meu pai lavrava a terra, alinhavava os eitos, enterrava as sementes e cumpria com altivez o cultivo de cada dia. Das suas mãos calosas desprendiam gotículas de cansaço. Mas sorria, porque dentro dele, o vento era uma sinfonia de gorjeios”.
        Ele nasceu em Resplendor/MG, no dia 26 de dezembro de 1896. Segundo filho de Antônio Elias Barbosa e Maria Francisca Elias. Faleceu em Vitória/ES, no dia seis de agosto de 1974, depois de longa peregrinação, semeando pelas estradas da vida e deixando o rastro de seu grande amor...
       Em sua obra, O TEMPO NA PONTE de 2002, Alvim Barbosa homenageia nosso pai com um magnífico poema, do qual transcrevo as duas estrofes finais:
        “Minas do pai na roça, enxada na mão, foice na cana, rapadura, alambique, garapa, marcando seu gado, curando seus (tristes) bois. Cigarro de palha, chicote dormindo, prometendo coça que nunca foi dada... pai calado, pensando, sonhando abismado, um futuro bonito pros seus cinco filhos.”

        “Seu nome era ALVINO. Também ELIAS BARBOSA. Era VICO. É VICO dentro de mim. Era AMOR. Hoje é LUZ. É meu PAI.”
...meu Ídolo, meu Herói! (in memoriam)

               Aldair Barbosa Simões Gomes, Autora da obra “Silêncio Verde vida e obra de Alvim Barbosa” – FUNPEC - Editora, 1º Edição, Agosto de 2013.









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