Antes do casamento
Joana estava empolgadíssima com o seu casamento. Contava com a ajuda da mãe nos inúmeros preparativos: ir à modista para a última prova do vestido de noiva; ao salão de beleza mais badalado da cidade para escolher o penteado e ao bufê escolher o menu para o jantar,incluindo o bolo, os docinhos, os bombons – tudo escolhido por elas, com muito carinho.
O casamento-no religioso e no civil-seria na sua própria casa.
Seu irmão era padre. Foi mais fácil realizar seu sonho: casar em casa. Sua querida avó poderia assistir à cerimônia sem sair de sua cama, que seria colocada no jardim.
O noivo não pôde participar da maratona de Joana. Estava fazendo um check-up, pretendia viajar, em lua de mel, para o Leste Europeu e queria ir tranquilo, sem se preocupar com a saúde.
Ultimamente trabalhava demais para pagar todas as contas. Durante uma conversa com os amigos comentou:
- Nunca pensei que casar fosse tão caro, já gastei muito dinheiro, assim mesmo falta tanta coisa ainda.
Um dos amigos observou:
- João, você não me parece bem, sei que é uma fase difícil, mas é preciso se cuidar.
- Não se preocupe, logo terei o resultado dos exames e poderei dormir em paz.
O amigo foi embora, ainda preocupado. Resolveu conversar com a noiva a esse respeito.
Quando a encontrou, ela estava radiante: um brilho nos olhos, um vestido vermelho com bolas pretas, uma sandália também vermelha e o coração saindo pela boca. Não teve coragem de tocar no assunto.
João continuou trabalhando até a véspera do casamento. Sua mãe estava muito atarefada para perceber qualquer mudança na fisionomia do filho. Os trajes, a maquiagem, os penteados para ela e filhas tomaram todo o seu tempo. O pai percebeu o seu cansaço, sua inapetência. Perguntou-lhe:
- Seu apetite foi embora? Não estou gostando da careta que você faz quando come. O que está sentindo? Dor no estômago?
João procurou contornar a situação:
- Alguma coisa que comi fez mal. Depois do casamento, vou ter sossego. Tudo isso vai passar.
Chegou o grande dia. O noivo suava frio, o coração batia descompassado. Assim mesmo, vestiu seu terno cinza, camisa rosa, gravata cinza (mais escura que o terno) e sapatos pretos. Era um rapaz muito bonito, mas uma expressão de sofrimento deixava o seu rosto, abatido. Seu pai o levaria até a casa da noiva.
Joana demorou um pouco para se arrumar. Estava exultante, sempre gostou do noivo. Eram vizinhos e se conheciam desde criança. Quando resolveram assumir o namoro, ela tinha certeza do seu amor. Não lhe saía da cabeça a infância dos dois: brincaram juntos, andaram de bicicleta e aprontavam muita confusão nas festas da igreja.
Todos aguardavam a entrada da noiva. João começou a andar descontrolado, sentindo muita dor e falta de ar. Seu pai percebeu que seu estado era sério.
- Meu filho, não dá para esperar mais. Temos que ir imediatamente para o Pronto Atendimento.
Tarde demais, ninguém mais poderia ajudá-lo. O pai ficou mudo, paralisado. Seu filho caiu no chão, já morto.
Teve um mal súbito.
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A babá
Depois que o terceiro filho nasceu, Marcela não sabia mais como conciliar o trabalho, as crianças, o marido e a casa. Resolveu contratar uma babá e uma faxineira.
Sérgio, seu marido, achou uma ótima ideia . Encontrar uma faxineira não foi difícil, a da vizinha estava com um dia livre. Chamava-se Antônia, era responsável e trabalhadeira. Ficou feliz quando soube que a patroa procurava uma babá, porque sua filha, Maria Aparecida, parou de estudar, estava desempregada. Ela gostava muito de criança, foi logo contratada.
Tudo estava indo muito bem: o casal trabalhando e as crianças, contentes com a babá.
No domingo, durante o almoço, um comentário do marido preocupou-a:
- A firma está com problemas financeiros. Um dos sócios morreu, faz muita falta, pois sempre se dedicou à empresa e a conhecia bem. Só que era bastante centralizador, por isso todas as transações necessitavam do seu aval .
O que Marcela mais temia aconteceu: seu marido foi despedido. A primeira coisa sensata a fazer era dispensar uma das empregadas. Contenção de despesas. Concordaram em despedir a faxineira, porque a babá - no momento - era imprescindível. Ela, cuidando das crianças, para que Sérgio pudesse procurar emprego. Todo final de semana, o casal fazia faxina na casa.
Finalmente, depois de seis meses, ele conseguiu um emprego. Marcela respirou, aliviada. Com a perspectiva de melhora da situação financeira da família, pediram à babá que ajudasse nos afazeres da casa durante algum tempo até poderem recontratar a faxineira. Ela concordou e também continuou cuidando das crianças: uma menininha de dois anos, um garotinho de quatro e um, de seis.
No final de semana, os pais levaram os filhos para passear e deram folga para a babá. Ela resolveu visitar algumas amigas que sempre telefonavam e a convidavam para passear.Vestiu uma saia estampada com rosas vermelhas, fundo branco; uma blusa de malha branca bem justinha da patroa; colares e muitas pulseiras coloridas; uma sandália de saltos bem altos, também vermelha (presente do casal). Saiu logo para ficar mais tempo com as amigas.
- Como você está bonita! -elas disseram - Que emprego bom o seu! - continuaram as amigas.
Maria Aparecida estava exultante. Como era gostoso ser elogiada, sentiu uma sensação deliciosa. Há muito tempo só trabalhava, não tinha lazer. De repente, não se sentia mais cansada. Ficou assim durante toda a visita.
Quando se despediu das amigas, combinaram um novo encontro no próximo fim de semana.
Fez grandes planos para o passeio com as amigas e só pensava nele ao cuidar das crianças e ao limpar a casa.
No sábado, depois do café da manhã, pediu para a patroa um dia de folga. Marcela estava muito ocupada, não prestou atenção na fisionomia da empregada, quando lhe respondeu que ela e o marido precisavam viajar a negócios. Que ela deixasse para o final de semana seguinte.
Maria Aparecida não se conformou. Pensou: “os filhos não são meus ... sou jovem e preciso me divertir”.
O que fazer com as crianças? Ficou muito nervosa e sem saída. As amigas telefonaram, esperariam por ela no Shopping: tomariam um lanche e depois iriam dançar. Quando ela disse que não poderia ir , suas amigas decidiram ajudá-la a resolver essa situação.
Depois que o casal partiu, as amigas chegaram em seguida. Sugeriram deixar as crianças dormindo, não haveria problema algum. Mais que depressa Maria Aparecida se aprontou e saíram para o passeio. Tudo correu maravilhosamente bem. Até um namorado ela encontrou na balada.
Era bem tarde, todas estavam cansadas e sonolentas: tinham bebido muitas caipirinhas.
Na volta para casa, o namorado pediu para acompanhá-la. Resolveu dormir com ela. Só havia uma cama: a do casal.
-Vamos dormir no quarto dos patrões - ela disse.
Ele achou muito bom e foi logo deitando: estava exausto de tanto beber e dançar.
Adormeceu logo e Maria Aparecida foi até o quarto das crianças, preocupada. Havia se esquecido delas. Felizmente, estavam dormindo tranquilamente. Deu um suspiro de alívio e correu para cama.
Na manhã seguinte, a babá, ainda sonolenta, ouviu um barulho. Não se preocupou: é o cachorro do vizinho, pensou. Virou-se para dar um beijo no namorado, o rapaz não estava na cama.
“Deve ter ido ao banheiro”, pensou.
Procurou-o por toda casa, nem rastro dele. Só não entrou no quarto das crianças com receio de acordá-las.
Estava na hora das mamadeiras dos pequenos e do leite com Nescau para o garoto mais velho. Foi para cozinha pensando no namorado. Não entendia por que ele não se despedira dela. Lembrou-se de ter deixado o molho de chaves em cima do criado-mudo.
Dirigiu-se para o quarto das crianças. Deu um grito de pavor, quando não as viu. Ficou sem fala, seus patrões chegariam logo. Como contar para eles o que ocorrera?
Desesperada, ligou para as amigas. Ninguém conhecia o rapaz que dormira com ela. A única saída era dizer que ladrões entraram na casa e levaram as crianças. As crianças haviam dado muito trabalho, choraram muito, provavelmente, devido à ausência dos pais, por isso precisou tomar um relaxante e não ouviu barulho algum.
Alguns minutos depois , disse para si mesma: “Não vai dar certo, eles não vão acreditar em mim. O melhor a fazer é desaparecer”.
Foi o que fez..
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