Boi- Carlos Alberto Silva Júnior



Vovô Vico. Vaqueiro.
Açougueiro. Avô meu.
Terno azul-claro, amarrotado, de linho.
Faca afiada. Punhal pontudo.
Aparece Aparecida. Vó minha.
- Leva,Vico, o menino.
Vamos então matar o boi.
Rosto corado, calado. Prepara a faca, laço, punhal.
O menino amola: - Vô, boi chora?
Cabeça baixa, passo lento. Triste que até doía.
Não resiste, segue para sua hora.
- Vô, boi chora?
Dependura o paletó. Punhal velho, veloz ainda.
Corta e fura  couro sem dó. Mão firme e certeira.
Não judia, mata sem fazer cera.
Berro e mugido não ouvi.
Sangue quente e vermelho pude ver e sentir.
- Sai pra lá, menino.
- Vô, boi chora, eu vi.
 Avô e menino também...
Põe a mão no meu ombro, me consola,
dizendo com seu silêncio, que me entendia.
Não sei se por velhice, compaixão ou rebeldia,
mas boi nenhum matou, depois daquele dia!
Kaká-Vitória/ ES-2004
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 O menino cresceu, casou-se, tornou-se advogado. Era pai de três filhos e avô de quatro netos. Guardou no porão da memória essa preciosa história existencial, vivida com seu amado vovô Vico num passado distante... Em 2004, num momento de nostalgia, passou para o papel esta inesquecível lembrança e deu, de presente, à sua mãe Arlete.
Minha singela homenagem a
a meu amado sobrinho, Carlos Alberto Silva Junior ( Kaká) .













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