Celebração- João Gandini



Sentei-me a uma mesa de quatro lugares
(a sensação de companhia era essencial)
Nenhuma mulher
(uma que trocasse comigo duas palavras por misericórdia)
Veio o garçon
Veio o chope
Exatamente nessa ordem
(fosse o contrário e talvez o garçon compartilhasse
comigo este cálice)
Nenhum amigo
(todos devem estar celebrando algo e os que nada
celebram por certo vivem incomunicáveis solidões)
Nenhum filho
(se estivessem aqui preencheriam os lugares na mesa
e não o meu coração)
Nem a lua
(se a visse dependurada no céu amarraria nela
a corda dos meus desatinos)
Passa da meia-noite
(um casal se levanta e ela sussurra para ele:
feliz dia dos pais!)
E eu suplico por um veículo espetacular
que me transporte para a vastidão do universo
(onde se possa viver sem tantos tropeços)
Filhos da posteridade!
Quando lerem este poema
saibam que o escrevi não porque sou poeta

mas por que estou absolutamente triste.




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