Dando corda para a imaginação- Samira Braga Giorgini


    Na lista dos meus afazeres daquela manhã só faltava um item. Eu precisava comprar corda para meu gato afiar as unhas. O sofá de casa já estava puído e o puff todo furado com as unhas do bichano. 
    Nada melhor que o Mercado Municipal da cidade para achar tão especifica mercadoria.
    Entrei e logo fui perguntando:
    - Onde acho corda?
    - No armazém do último corredor, à direita.
    Quando cheguei ao armazém, tinha uma senhora esperando para ser atendida.
    - Veneno para rato, disse em tom melancólico e sem olhar para o atendente.
    O que uma senhora tinha de tanta mazela na vida pra pedir veneno de rato numa linda manhã de segunda-feira? Logo o Natal se aproximaria, as movimentações típicas de final de ano, a lista de desejos de um ano melhor, o coral com músicas de Jesus.
    - E a senhora?- perguntou em seguida o atendente para mim.
    - Quero corda.
    Naquele momento me senti sendo julgada também, porque  a senhora, antes cabisbaixa, levantou a cabeça,  olhou bem nos meus olhos e disse:
    - Tá difícil né?
    - Tá! - respondi pensando no gato que estragara muitas coisas em casa e agora ganharia um brinquedo envolto em sisal.
    Mas logo pensei que ela estava se referindo aos problemas da vida e encontrara consolo no meu pedido, de dar cabo com uma corda aos problemas.
    - O gato está acabando com minha poltrona.
    - Ah, comigo são essas pestes. Alias, vou levar também veneno pra formigas. Aquelas pequenininhas, sabe?
    Naquele momento abrimos um sorriso e o equívoco que ambas pensaram se desfez. Estávamos apenas a buscar solução para os problemas corriqueiros da vida.
    O Natal se aproximava de fato, já podia se ver os motivos natalinos  de louça e feltro pelas lojas. Coincidência ou não naquele momento ligaram o som do ambiente e acordes suaves  invadiram nossos ouvidos. Talvez trazendo a mensagem que ter fé na vida e acreditar mais nos céus.
    Enfim, era Natal!


Comentários