Da varanda olho para o horizonte. No céu, o sol começa a se esconder atrás das colinas ao longe. É a hora do Ohooo!!!!. A hora do encanto. Entro. Quero chamar Rosa Maria. Quero compartilhar com ela aquele instante de emoção. De beleza infinita. Rosa Maria dorme profundamente. Volto para a varanda. O sol já se escondeu. No céu ainda claro, uma longa nuvem estreita, vermelha, parece estar em chamas. Mais alto, uma linha de pequenas nuvens brancas brilha. Destaca-se no azul claro. Lamento não poder compartilhar com Rosa Maria toda minha emoção.
Qual foi o primeiro ser humano a emocionar-se com o por do sol? Foi este o momento de nossa evolução em que nos tornamos verdadeiramente humanos? Começamos a nos emocionar com a beleza da natureza no momento que tomamos consciência de nossa própria vida? Tomar consciência da solidão inerente a todo ser humano ao sentirmos necessidade de compartilhar emoções e sentimentos?
Foram os humanos os únicos seres a percorrer toda esta evolução? Algum hominídeo teve a percepção de sua própria vida? Emocionou-se com a natureza?
O homem de Neandertal, tão próximo de nós, sentiu necessidade de compartilhar emoções?
Além da consciência da própria vida, o que diferencia os seres humanos dos animais? A bondade, a solidariedade, as ligações afetivas não são exclusivamente humanas. A maldade sim. O sentir prazer em causar sofrimento em outros é exclusivamente humana. O masoquismo, o sentir prazer no próprio sofrimento, também é característica exclusivamente humana.
Não me lembro quando comecei a perceber a beleza da natureza. Também não sei quando senti necessidade de partilhar minhas emoções e sentimentos. Certamente foi um processo lento. Creio que, individualmente, reproduzimos o processo da evolução humana. Hoje em dia, idoso, é grande minha necessidade de partilhar minhas emoções. Com amigos. Com aqueles a quem amo e, especialmente, com meu filho e minha amada. Partilhar emoções é uma comunhão de mentes. De almas. Partilhar emoções nos torna mais humanos.
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