– Coooo-coooooooooooooooo. Co-co-co-cooooooooooooooo – cacarejou desesperada a galinha no meio da noite.
Dona Sônia acordou assustada – “o que está acontecendo com essa galinha?”, – ela pensou. Levantou da cama num pulo e olhou pela janela. Surpresa se deparou com um homem em cima do telhado com um saco na mão.
– O que você está fazendo no meu telhado? –gritou irritada.
O rapaz olhou mais assustado ainda do que ela e seguiu por cima do telhado, dirigindo-se à casa vizinha de fundos à residência de Dna. Sônia. Assim, a senhora percebeu que o rapaz era o filho de sua vizinha.
Dona Sônia não parava de gritar: “o que você está fazendo??”, “devolve minha galinha!!”, “devolve, seu moleque!”, “deixa minha galinha.”. Saiu correndo de pijamas, assim, xingando e gritando intempestivamente. Acordando a vizinhança toda, Dona Sônia bateu a porta e dobrou o quarteirão em direção à casa dele para reaver a galinha. Fez um escândalo na porta, exigindo sua bichinha preta de volta.
O rapaz estava relutante em abrir a porta, mas acabou abrindo. Dona Sônia já foi entrando para pegar o saco com a galinha. Ele insistiu que a galinha não era dela, que ela devia ir embora e que a galinha pertencia a ele. Dona Sônia pegou o saco da galinha e saiu nervosa. No escuro, já que a casa não tinha iluminação no quintal, a senhora jogou sua galinha no galinheiro e voltou para as cobertas, enfurecida.
Ficou lá remoendo a situação, pensando em chamar a polícia. Contudo, lembrou-se de quando seu pato fora furtado. Até um perito compareceu ao local do furto (essa mesma casa) para averiguar as circunstâncias do caso. Ela ainda podia se lembrar do desinteresse do policial quando o deslocou pela casa, mostrando as evidências do crime.
– Aqui “Seu Policial”. Veja as marcas de pegadas no muro! Ele pulou por aqui – ela dizia inconformada, enquanto ele olhava assentindo com a cabeça.
– Uhun – era tudo que ele dizia.
Essa lembrança foi-lhe difícil e bateu-lhe uma saudade de seu pato. “Jeremias...”, pensou com tristeza. Ainda assim decidiu que pela manhã comunicaria o crime recém-ocorrido à polícia.
Logo cedo, a mulher foi ao quintal ver sua galinha bravamente reavida.
– Ué? – indagou.
Sua galinha estava lá. E havia mais outra.
Assim compreendeu tudo: o vizinho roubara o animal de outra pessoa, havendo apenas atravessado com a bichinha por cima de seu telhado.A contra gosto, Dna. Sôniaenfiou a galinha desconhecida embaixo do braço e foi à casa do rapaz.
– A galinha não é minha! Vim trazer de volta.
E arrematou:
–Eu não sou ladra. Humpf!
Nessa história, quem perdeu foi o verdadeiro dono da galinha, seja lá quem for. Para a pobre galinha em questão, a história não mudou: saiu de uma panela e foi para outra.
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