Identidade- Adriano Pelá


                João Pedro Araujo  dos  Santos, nascido no interior do Estado da Bahia, filho primogênito de uma extensa prole de nove  irmãos,  viveu até seus quinze anos lá entre os conterrâneos, onde a vida parecia fácil, devido a natureza pródiga da vida rural que supria quase todas as necessidades de alimentação da família e com o pouco ganho dava para ir levando.  Porém com o crescimento da meninada e a pressão por outras oportunidades, seu pai, Jesuíno Araujo dos Santos, resolveu partir para a capital.
                Àquela altura da vida, Salvador parecia ser a solução. Mais oportunidades de trabalho e de escola para seus filhos, irmãos e irmãs de João Pedro. E assim fez. Viraram soteropolitanos.
                Foi uma grande mudança para todos. Uma cidade grande, muitas possibilidades de ganho, empregos, escolas, enfim um novo horizonte aconteceu para todos e, especialmente, para o nosso herói.  A descoberta daquele mundo cheio de novidades que ele, com todas as expectativas de jovem, soube bem avaliar e aproveitar, tornando-se um aplicado trabalhador e ótimo aluno.
                Em uma das diversas atividades escolares veio a participar de um concurso literário cujo prêmio era uma viagem ao Rio de Janeiro para conhecer a cidade e participar de um encontro nacional de escolas brasileiras.
                 João Pedro e mais quatro colegas de outras  escolas conseguiram o prêmio, e nesse ponto, outra  virada de rumo em sua vida. Ao chegar ao Rio, num dia de sol aberto,  numa sexta-feira, a cidade estava em ebulição, o trânsito frenético com seus  carros reluzentes de modelos não vistos antes, as pessoas diferentes daquelas a que ele estava acostumado, foram para ele uma grande novidade que o impressionaram muito.
                Naquele momento ele formulou um sonho ”vir morar no Rio”, intento que iria se concretizar após três tentativas.  Conseguiu  emprego de “higienizador de louças” (seu bom humor o impedia de dizer  “lavador de pratos”), e assim, na nova cidade e nova vida, João Pedro, trabalhava e estudava.  Depois de alguns anos de muita luta e trabalho terminou a Faculdade de Administração de Empresas, com ótimo conceito, o que lhe propiciou um convite para ir trabalhar em São Paulo, não mais como “higienizador de louças”,  como de início, mas agora como “ higienizador” de finanças e administração de uma Empresa em dificuldades.  João Pedro, mais uma vez, se mostrou capaz, colocando a mesma em ótima situação.
                Realizado profissionalmente, num dia de folga, começou a relembrar seus dias de infância, juventude, seus dias de extrema carência e a compará-los com os dias atuais. Concluiu que não era mais a mesma pessoa e, portanto, não poderia mais denominar-se João Pedro Araujo dos Santos. Achou que não fazia sentido ter se transformado tanto e ter o mesmo nome. Com essa ideia chegou a consultar um advogado, que o informou da enorme dificuldade de mudança de nome. Ainda assim a vontade de mudar não o abandonava, tornando-se uma ideia fixa. Chegou a hora de falar com o seu analista. Após algumas sessões, e sem uma solução viável, o analista lhe disse: “Toda vez que alguém o chamar, você mentalmente coloca após seu nome o adjetivo “novo”, então assim não será a mesma coisa, fará jus a sua “nova” pessoa”.

                João Pedro gostou da ideia e passou a denominar-se “João Pedro o novo”, e isto com o passar do tempo tornou-se um mantra que lhe faz muito bem, imagina-se sempre renovado e ficou livre da pecha “velho”, pois ele era sempre o novo.



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