Por trás dos muros brancos- Jugurta de Carvalho Lisboa


    Curupaiti, que não tem nada a ver com palco da guerra do Paraguai. Neste Curupaiti, seus soldados não sucumbem varados por projéteis de fuzis, de granadas, nem de baionetas. Seu contingente trava uma luta incessante contra um inimigo invisível a olho nu, denominado Bacilo de Hansen. Sua ação, além de devassadora, caso não seja combatida sem trégua, além de mutilar, torna suas vítimas estigmatizadas pela discriminação. 
    Há várias décadas era comum vê-los em grupos, a cavalo, estendendo seus chapéus à caridade para receber as moedas atiradas à distância pelos doadores, cujo medo de contaminação não permitia que se aproximassem dessas pobres criaturas. Com o correr dos anos esse quadro foi se modificando. Deixaram de ser itinerantes e passaram a ser recolhidos em colônias, onde receberiam tratamento especializado. 
    pode imaginar que por de trás dele existe outro mundo habitado por seres humanos marcados pelas lágrimas do sofrimento. Trata-se da Colônia Curupaiti, com uma população, entre internos e familiares, da ordem de duas mil pessoas. Ali funciona o Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária, que é hoje um centro de referência nacional para tratamento da doença. O atendimento é voltado não só para os internos como, também, para os pacientes externos com problemas dermatológicos. 
    Na imensa área onde foi edificada a Colônia, veem-se ruas com casas residenciais onde vivem os hansenianos mais antigos, diversas instalações com enfermarias, templos religiosos de vários credos, pequenos estabelecimentos comerciais, salas de curativos que funcionam através do trabalho voluntário de pessoas abnegadas. Todos vivem em comunidade. Os internos, quando não estão hospitalizados, são distribuídos para os vários núcleos de enfermagem. Alguns já completaram mais de meio século enclausurados naquele pequeno mundo. Cada qual com sua história de vida e sofrimento. Existem aqueles que aceitam com resignação o seu estado de insulamento, enquanto outros potencializam suas dores através da revolta. 
    O Estado mantém a estrutura funcional do Hospital. A condição de sobrevivência dos enfermos residentes, por serem excluídos do mercado de trabalho, devido às próprias condições físicas, fica dependente das doações de alimentos, medicamentos, material hospitalar e demais necessidades próprias do Em que pese esta condição de dependência, a iniciativa particular merece um lugar de destaque pela participação efetiva na solução desse problema, minorando assim os efeitos de uma enfermidade das mais cruéis e estigmatizadas, biblicamente conhecida por Doença de Lázaro.  





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