“Se tu amas uma flor que
se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão
floridas” (Saint Exupéry)
Quando a noite cai, docemente, e
o céu se ilumina por milhões de estrelas floridas, meu pensamento mergulha numa
indagação: em qual delas terá se transformado a inesquecível Aparecida Costa
Barbosa, representante genuína, inconfundível do modelo de mãe? Ímpar ao longo
de toda sua trajetória de vida.
Nasceu
em 19 de junho de 1910, em Laranjal, MG, município localizado na Mesorregião da
Zona da Mata. Por volta de 1925, a família mudou-se para Resplendor, MG, à
época apenas um povoado emergente, localizado bem no vale do Grande Rio Doce,
gigante de águas tranquilas que divide o povoado em Sul e Norte. No dia 25 de
janeiro de 2003, em Vitória, ES, após longo e inominável sofrimento, sua Luz se
apagou na terra e mais uma estrela iluminou o céu.
Neta
de poloneses, loura, cabelos cacheados, olhos azuis, como o eterno azul do céu,
transparentes como pedras preciosas, embelezando seu rosto de pele rosada e
macia, com o sorriso que sabia acolher.
Em
maio de 1927, casou-se com Alvino Elias Barbosa (O Seu Vico). Dessa união
nasceram seus cinco filhos: Alda; Aldair; Antônio de Pádua; Alvim Barbosa e
Arlete. Todos resplendorenses.
Mulher do trabalho, grande e
imbatível guerreira, se reinventou algumas vezes, durante a longa travessia...
agigantando, assim, seu lado humano e generoso. Criatura notável, “parteira”
por opção solidária (naquela época não havia médico no povoado) única, forte,
protetora, não só da família, mas também de todos os que viviam a seu redor,
especialmente os mais fracos (Além de seus cinco filhos biológicos criou mais
cinco, adotados pelo seu coração).
Era,
na sua simplicidade, um ser humano iluminado, emblemático! Soube transmitir aos
seus filhos e a todos os que tiveram a ventura do seu convívio, grandes
ensinamentos, valores, exemplos de fé inabalável, imensa esperança...
Desde
cedo, aprendi muito com sua fala firme e determinada, com seu senso de justiça,
sua integridade. Com a sempre presente coragem de semear em terras áridas... e
de construir pontes...
Ensinou seus filhos a amar e valorizar
a Terra Natal com respeito, responsabilidade e gratidão. A conduzir a vida de
forma correta e singela. Quando foi necessário mudar para a Fazenda Oncinha,
propriedade rural da família, próxima ao povoado de Resplendor, ainda que,
mergulhada em intenso conflito, com serenidade, fez os filhos entenderem e
aceitarem, que era o melhor para todos, que a colaboração de todos era
necessária na luta pela sobrevivência.
Esses
laços familiares, a força do passado, onde se originou esse modo de ser, de
encarar a realidade são um tesouro, uma essência de imortalidade semeada pelos
meus pais.
Aqui,
peço permissão à grande e admirável escritora/poeta Sul Matogrossense, Raquel
Naveira, para reescrever um trecho de seu precioso agradecimento pelo livro
SILÊNCIO VERDE VIDA E OBRA DE ALVIM BARBOSA, afim de homenagear D. Aparecida e
Seu Vico, meus pais.
“Ficou
forte para mim a importância da família. Diz o Salmo: “Quão boa e suave é a
amizade entre os irmãos” Em todos os momentos de tristezas, perdas e dores, os
irmãos se deram as mãos em solidariedade e carinho. Herança deixada por seus
pais, D. Aparecida e Seu Vico. Raízes de caráter plantadas na Fazenda Oncinha
da infância em comum”
A VOCÊ, RAQUEL QUERIDA, MINHA PROFUNDA
GRATIDÂO PELA PRECIOSIDADE DE SEU TEXTO!
O
voltar é sempre movido por um apelo profundo, ligado à infância, à
adolescência... recordações infindas de um oceano de ternura... um retorno ao
princípio: Pais, Família, Amigos, Parentes, Padre André Colli (primeiro pároco
do povoado, Frei Jaime Maria Lagostera, espanhol de sangue quente, mais
político do que padre) Igreja, Catecismo, Escola, preocupação primordial dos
pais, Estação Ferroviária Vitória a Minas, em torno da qual formou-se o
povoado, O Circo, O Beco da Coruja, O meu amado Rio Doce, As Balsas, As
Lanchas, As Canoas, Os Botes. O Amor à Terra... O casamento de Alda, minha
irmã, o meu casamento, especialmente minha Vó Tia Chica, com seus noventa anos,
emérita contadora de histórias! Todo esse arsenal de memórias, espelhado no
palco do meu povoado: Resplendor!
Para
mim, são doces reminiscências gravadas na memória com sabor de eternidade, uma
sucessão de sentimentos numa atmosfera de sonhos... nesse mundo luminoso e
denso das Minas Gerais. Trago-as, todas, trancadas no meu coração, na minha
essência, com a sábia presença da minha querida mãe, a regê-las com maestria.
Amei e amo minha mãe, meu ídolo, minha estrela
em flor, exemplo de mulher íntegra e solidária, que marcou minha vida com sua
Luz, tornando-me uma pessoa menos imperfeita. Sou profundamente grata e
orgulhosa por ter a honra de ser sua filha. À D. Aparecida Costa Barbosa, mãe
amada meu tributo de admiração, amor, carinho, respeito e eterna SAUDADE... a
trazer-me, da plenitude da vida eterna, a voz do seu silêncio: “Combati o bom combate, cumpri
minha missão, guardei minha fé.” Timóteo – 4:7
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