Estávamos chegando para morar na
pequena cidade.
Papai era gerente de uma
agencia bancaria e mamãe professora.
Logo fiz amizade com a criançada
local. A vida no interior era muito
divertida. Empinávamos pipa, tomávamos banho de ribeirão, andávamos de
bicicleta.
E numa desta aventuras com os
outros moleques passamos por uma chácara que todos diziam ser do homem
lobisomem.
Tinha placas de Entrada Proibida. E começaram
a me contar que o homem não saia de casa. Só era visto a noite. Era muito
misterioso. Ninguém tinha visto seu rosto.
Paulo dizia que o homem era a
mula sem cabeça. Heitor falava que ele era um vampiro. Gustavo contava que nas
noites de lua cheia ele se transformava em lobo. Jairo jurava que ele era um
ET, que numa noite de raios e trovoadas uma nave pairou sobre a cidade e este
era o resultado...
Foi muita história apavorante
para uma tarde só.
Em casa contei para meus pais,
esta macabra historia. Eles riram de montão, e eu custei muito a dormir.
Comentando depois com outras
pessoas a aventura da criançada, meu pai viu que o povo também tinha receio do
morador misterioso da chácara.
Ninguém o tinha visto assim de
pertinho, e quando foi morar lá cercou tudo e colocou as placas proibindo a
entrada. Coisa muito esquisita.
Uma vez por mês chegava um
carregamento para ele. Nunca era visto na cidade, não fazia compras, vivia
isolado. O casal de empregados que ele tinha, não falavam português. Sempre que
eles vinham à cidade traziam tudo escrito o que queriam levar para casa.
Meu pai ficou encucado. E num
final de tarde resolveu visitar o estranho vizinho. Chegou batendo palmas para
anunciar a presença.
Apareceu um senhor de mais idade
com roupas que cobriam todo corpo, óculos escuros e um grande chapéu.
Meu pai se apresentou como novo
morador da cidade. Depois
do bate papo meu pai contou da lenda que gerava em torno da chácara e do seu
morador. Ele riu. Disse que, à distância, acompanhava a criançada olhando
assustada para sua casa. Chegou a colocar uma caixa com frutas no portão da
casa, mas a criançada quando viu correu como louca. Achou que pensaram na maçã envenenada da
Branca de Neve.
O estranho explicou:
- Cerquei a propriedade e
coloquei placas porque vi que a criançada daqui é muito livre e vai a todos os
lugares. Tenho uma pequena lagoa e fiquei com medo de acontecer alguma coisa
com as crianças. O que eu preciso vem da Capital. São os remédios, telas e
tintas que uso no meu trabalho. Outras coisas os meus empregados pegam na
cidade. Uma vez por mês vou à igreja deixar um donativo na caixinha. Sempre saio
depois do sol se pôr, porque é mais
conveniente. Como sou albino, o sol e a claridade me incomodam.
Meu pai se encantou com aquele
morador.
Na saída ele falou:
- Amigo, vamos deixar que as
crianças continuem usando a
imaginação e assim também não vais ser incomodado.
Meu pai visitou aquele senhor
por muitas vezes.
Mas a
verdadeira história só fui conhecer tempos depois e já morando em outra
cidade.
Agora que já somos todos adultos
podemos rir dessa história, mas na época custou-nos boas horas de insônia e
pesadelos.
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