O estranho homem solitário...- Arlete Trentini dos Santos



                Estávamos chegando para morar na pequena  cidade.
                Papai era gerente de  uma agencia bancaria e mamãe professora.
                Logo fiz amizade com a criançada local.  A vida no interior era muito divertida. Empinávamos pipa, tomávamos banho de ribeirão, andávamos de bicicleta.
                E numa desta aventuras com os outros moleques passamos por uma chácara que todos diziam ser do homem lobisomem.
                Tinha placas de Entrada Proibida.  E começaram a  me contar que o homem não saia de casa. Só era visto a noite. Era muito misterioso. Ninguém tinha visto seu rosto.
                Paulo dizia que o homem era a mula sem cabeça. Heitor falava que ele era um vampiro. Gustavo contava que nas noites de lua cheia ele se transformava em lobo. Jairo jurava que ele era um ET, que numa noite de raios e trovoadas uma nave pairou sobre a cidade e este era o resultado...
                Foi muita história apavorante para uma tarde só.
                Em casa contei para meus pais, esta macabra historia. Eles riram de montão, e eu custei muito a dormir. 
                Comentando depois com outras pessoas a aventura da criançada, meu pai viu que o povo também tinha receio do morador misterioso da chácara.
                Ninguém o tinha visto assim de pertinho, e quando foi morar lá cercou tudo e colocou as placas proibindo a entrada. Coisa muito esquisita.
                Uma vez por mês chegava um carregamento para ele. Nunca era visto na cidade, não fazia compras, vivia isolado. O casal de empregados que ele tinha, não falavam português. Sempre que eles vinham à cidade traziam tudo escrito o que queriam levar para casa.
                Meu pai ficou encucado. E num final de tarde resolveu visitar o estranho vizinho. Chegou batendo palmas para anunciar a presença.
                Apareceu um senhor de mais idade com roupas que cobriam todo corpo, óculos escuros e um grande chapéu.
                Meu pai se apresentou como novo morador da cidade.  Depois do bate papo meu pai contou da lenda que gerava em torno da chácara e do seu morador. Ele riu. Disse que, à distância, acompanhava a criançada olhando assustada para sua casa. Chegou a colocar uma caixa com frutas no portão da casa, mas a criançada quando viu correu como louca.  Achou que pensaram na maçã envenenada da Branca de Neve.
                O estranho explicou:
                - Cerquei a propriedade e coloquei placas porque vi que a criançada daqui é muito livre e vai a todos os lugares. Tenho uma pequena lagoa e fiquei com medo de acontecer alguma coisa com as crianças. O que eu preciso vem da Capital. São os remédios, telas e tintas que uso no meu trabalho. Outras coisas os meus empregados pegam na cidade. Uma vez por mês vou à igreja deixar um donativo na caixinha. Sempre saio depois do sol se pôr, porque  é mais conveniente. Como sou albino, o sol e a claridade me incomodam.
                Meu pai se encantou com aquele morador.
                Na saída ele falou:
                - Amigo, vamos deixar que as crianças continuem usando  a imaginação e  assim também não vais ser  incomodado.
                Meu pai visitou aquele senhor por muitas vezes.
                Mas a verdadeira  história só fui conhecer tempos depois e já morando em outra cidade.
                Agora que já somos todos adultos podemos rir dessa história, mas na época custou-nos boas horas de insônia e pesadelos.




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