Perna de sapo - Samira Braga Giorgini

    Olhei para a vasilha de comida do gato. Achei estranho. Pisquei para ver se estava com algum cisco no olho ou se ainda estava embaçado por conta do sono. Havia uma perna de sapo ali e por mais que piscasse,  a perna do sapo continuava ali.
    Senti um arrepio na coluna: o gato corria risco de morrer. Sapos eram venenosos.
    Se uma perna estava ali, na sua vasilha de comida,  o restante já tinha ido  direto pro “pandu” num suculento dum jantar. 
    Preocupada com o gato, e ao mesmo tempo com o dono do gato, meu filho, comecei a traçar um plano:  procurar o gato, que na minha imaginação devia estar em algum canto com a boca já espumando, e ao mesmo tempo preparando o terreno para que meu filho não sofresse com a tragédia anunciada. Comecei assim:
    - Você viu o  gato, filho?
    - Não mãe. Desde ontem após ter dado comida pra ele, não vi mais.
    - E você viu se ele comeu tudo ou andou caçando algo por ai?
    Não, ele comeu tudo. 
    Primeira tentativa fracassada. O gato estava sumido desde a noite de ontem e não retornara para o café da manhã.
    - Filho, ontem você viu algum sapo no quintal?
    - Sapo? 
    - Isso!
    - Não!
    Segunda tentativa, nível alto de ansiedade. Então o gato comeu mesmo o sapo e estava na barriga do gato. Ou do falecido do gato.
    A terceira tentativa foi de procurar a vítima do sapo criminoso. Ou seria o gato o assassino da história.  Estava mesmo precisando do  meu café  da manhã logo  para acordar direito naquele domingo.
Então, comecei a procurar o gato: embaixo da escada, dentro de alguma caixa, no tanque de lavar roupa, dentro de um cesto de roupas sujas, até fora de casa busquei algum sinal,  e encontrei ele, na porta dos fundos abrindo os olhos já faminto pedindo comida.
    - Moe, o que você fez com o sapinho, querido...
    Miava normal, ronronava “igualinho” a sempre, rodeava minhas pernas dando bom dia e pedindo seu café da manhã.
    Nisso, meu filho chegou, posicionou-se  para alimentar o bichano. A bronca que tinha levado na semana tinha surtido efeito: o gato é seu, cuide dele!
    Pegou a vasilha para limpar.
    Dei um grito:
    - Não ponha a mão nisto ai!  É tóxico!
    Ele olhando para a mãe ensandecida, apenas soltou:
    - Ah, achei a perna do meu boneco ninja! Procurei feito louco ontem...




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