Vagalumes- Dalila Krauss de Lima Mizutani



                Numa casinha no alto da serra em Minas Gerais, muitas árvores floridas, pássaros voando e cantando fazendo um barulho incrível, o sol se escondendo frágil, sem cor, pois a chuva, que ameaçava cair, desanimou e se escondeu com ele.
                Talvez o sol tenha sentido que não era necessário esparramar a sua cor, visto que as árvores já estavam no auge de suas potências, enchendo nossos olhos de cores alaranjadas, amarelas, marrons, verdes de diversas tonalidades, que se misturavam com o colorido dos pássaros. Assim, o grande sol deve ter pensado que seria muito carnaval para uma tarde de novembro.
                Com os olhos alegres de ver tanta beleza e o coração feliz com a algazarra dos pássaros, eu só admirava, perplexa com o movimento da natureza.
                Deixei a noite chegar sem muito questionamento interior, só agarrando tudo com os olhos e segurando firme dentro de mim, para a memória não esquecer aquele dia.
                E a noite veio, escurecendo tudo.
                Continuei ali, zanzando pelo espaço sagrado, de um lado para o outro, em frente à casa, fincando o pé na serra e o olhar em tudo.
                Escuro total, breu, nada de luz artificial inventada pelo bicho racional, mas a natureza viva mostra a sua força, sua luz própria.
                Com o pulsar da terra, a serra se encheu de vagalumes no seu piscar luminoso, fiquei ali, sem piscar, embriagada pela beleza e com a alma pequena por saber-se triste por estar a perder tantas vezes aquele encanto, mas alegre por naquele momento estar ali.
                Pude sentir, ver e me emocionar com a beleza da natureza que se ofereceu a mim naquele dia, por eu estar com ela, acolhendo-a amorosamente.
                Fiquei forte, feliz e criativa, e me pus a escrever, curando minha alma.
                Que eu possa, no meu pedaço da serra, mostrar a outros humanos uma noite de vagalumes felizes, que eu possa brilhar como eles e sentir-me pertencente a um grupo de luz, irradiando beleza, paz, harmonia e silêncio interior.

                Bom é estar viva e enxergar com a alma.



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