Quando comecei a fotografar, levado pelas mãos e olhares dos mestres
Elza e João Rossato, senti que algo
muito importante havia nascido em mim: eu estava aprendendo a ver, e não simplesmente
olhar. Nesse processo evolutivo, mesmo as coisas mais simples e, em
geral, despercebidas da maioria dos seres humanos, passaram a ter algo
cativante para mim, alguma coisa que, antes da fotografia, não estava ali
simplesmente porque eu olhava, mas não via. Agora, recentemente, passei a saber
qual o presente que me deu a fotografia : descobrir o wabi sabi.
Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que
mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível :
wabi sabi é um jeito de “ver” as coisas através de uma óptica de simplicidade,
naturalidade e aceitação da realidade. Os mestres japoneses
perceberam a beleza e elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do
tempo. Uma velha tigela de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha
amarelada, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos
que a tocaram...
Enfim, aprendi
que fotografar é descobrir que na natureza todas as coisas são impermanentes,
imperfeitas, incompletas. Fotografar é ver a beleza escondida na feiúra, a
grandeza existente nos detalhes despercebidos. Fotografar é apreciar e
registrar momentos da ordem cósmica, é focar no intrínseco, no irregular, no
despretensioso, no turvo, no envelhecido, na simplicidade. Fotografar é a
divina Arte de Registrar as Imperfeições.
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