Wabi Sabi e a Fotografia- Antonio Carlos Tórtoro


              Quando comecei a fotografar, levado pelas mãos e olhares dos  mestres Elza e João Rossato,  senti que algo muito importante havia nascido em mim: eu estava aprendendo a ver, e não simplesmente olhar.  Nesse processo evolutivo, mesmo as coisas mais simples e, em geral, despercebidas da maioria dos seres humanos, passaram a ter algo cativante para mim, alguma coisa que, antes da fotografia, não estava ali simplesmente porque eu olhava, mas não via. Agora, recentemente, passei a saber qual  o presente que me deu a fotografia : descobrir o wabi sabi.  Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível : wabi sabi é um jeito de “ver” as coisas através de uma óptica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade.   Os mestres japoneses perceberam a beleza e elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Uma velha tigela de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que a tocaram... 

            Enfim, aprendi que fotografar é descobrir que na natureza todas as coisas são impermanentes, imperfeitas, incompletas. Fotografar é ver a beleza escondida na feiúra, a grandeza existente nos detalhes despercebidos. Fotografar é apreciar e registrar momentos da ordem cósmica, é focar no intrínseco, no irregular, no despretensioso, no turvo, no envelhecido, na simplicidade. Fotografar é a divina Arte de Registrar as  Imperfeições. 



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