Yaponira- Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz



                Dona Yaponira era magra de libertar ossos. Tinha grisalhos cabelos, uma boca generosa da qual se intuia gargalhadas. Para mim, aos sete anos era tão velha quanto a primeira alvorada.
                Tomou-se de amores por mim. Talvez fosse porque eu era boa aluna, aplicada e atenta. Talvez porque eu a olhasse com meus olhos de caleidoscópio, percebendo nela uma força não condizente com seu corpo aparentemente frágil. Eu admirava e muito a delicadeza com que ensinava, e ao mesmo tempo sentia que era firme e capaz de colocar limites.
                Lembro-me, era um dia e sol, no pátio as árvores faziam a dança dos ventos. Era no recreio. Saímos todos, a alegria dos poucos anos vividos escorrendo por nossos poros.
                Dona Yaponira, fazia seu lanche, sempre com os outros professores. Dessa vez estava sentada, em um banco de madeira, debaixo de uma árvore. Eu a observava. Ela mordiscava o sanduíche, não como alguém que não desejava, mas como quem desejasse prolongar o desejo. Não sei porque senti como se a estivesse invadindo. Porém, curiosa, como sempre, não conseguia afastar meu olhar de minha professora. Esqueci de meu lanche. Algumas meninas me chamaram, mas eu permaneci onde estava. Demorou o lanche de Dona Yaponira! Então ela se levantou e limpou, impunemente as mãos sujas em seu vestido, longo e rodado e, pior, lambeu cada dedo, com vontade e delícia. Só então, me surpreendeu a olhá-la fixamente. Sorriu dessa vez, largamente, revelando uma juventude inusitada. Então, colocou o dedo em riste entre o nariz e a boca. Agora, éramos cúmplices.




ilustração- Fernanda R-Mesquita

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