Eterna aprendiz- Nely Cyrino de Mello


Eu vi meu pai, machado à mão,
Rachando lenha.
Vi minha mãe içando o balde,
Cristais respingando ao sol.
Ele acendia o lampião à querosene
E ajeitava os gravetos no fogão.
No avental dela, respingos de licor
De figo, ou molho de macarrão.
Ele ensinou-me os segredos do céu.
Olha o Cruzeiro do sul, as três Marias e dizia:
Na casa do Pai há muitas moradas.
E eu, pequena aprendiz, com tudo me encantava.
Ensinou-me também as primeiras canções.
Em vez do machado, o bandolim,
Cavaquinho, violino, piano, violão.
E os segredos da alma, aprendi.
E minha mãe cantava: A Casinha Pequenina,
O Jangadeiro, Sertaneja, Luar do Sertão.
O coração chega a doer de saudade
E uma vontade de esparramar esta emoção.
Ele se foi, mas posso ouví-lo ainda,
Quando ela, já velhinha,
Entoa uma daquelas canções.
E eu, eterna aprendiz, celebro a vida.
No outono as folhas caem, mas
Como são lindas as manhãs de abril!
O entardecer pode ser belo também,
Em tons de rosa sobre o azul-anil.
E nos momentos mais difíceis da vida
Posso aprender ainda, pois,
No fundo do poço, a água é cristalina
E no graveto, a chama invisível existe.






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