Quem deve morrer?- José Antonio de Azevedo

Um Ministro das Finanças japonesa  dependurado nos seus setenta anos, já carcomido, mas autoridade no seu país deu a seguinte orientação aos velhos aposentados do seu país: “Tratem logo de morrer, a fim de resolver o problema da previdência social”. A civilização atual assentada no regime de mercado com a economia globalizada está se animalizando a sociedade.
Um jornalista famoso escreveu em um grande jornal sobre a nefasta declaração do Ministro  expondo também que o idoso deveria recusar tratamentos médicos porque na vida ele não tinha mais utilidade.  Condenou o Ministro Japones  argumentando que, se o velho aposentado só serve para perturbar a família e onerar o Estado ele próprio deveria ser o primeiro a ser descartado. Os próprios idosos enxergam o problema por outro raciocínio mediato. Eles trabalharam, contribuíram para a previdência social todo o tempo produtivo a fim de utilizarem estes recursos quando as forças laborativas esvaírem-se. Portanto, o dinheiro investido na prevenção da velhice é deles e ao governo cabe tão somente administrar os fundos. Concluem ainda na premissa de que enquanto houver vida haverá esperança; portanto, o direito à vida é o mais sagrado de todos.
Falando um velho minerim da gema, dentre outros  aspectos do seu corpo assim se expressa numa poesia caipira:
“Vô conta cumu é triste, vê a veíce chega
Vê us cabelus caino, vê as vista incurtá
Vê as pernas trubicanu, cai aqui cai aculá
Vê tudinho murchando, pronto p’ra acabá...}
{...No tempu qui eu era rapaiz, o sor p’ra mim briava
Tinha mir  namorada, tudo di bom p’ra mim sobrava
Cum as mininas mais bunita du arraiá eu ficava
Dia sim, otru tamém, sem discansu continuava...}
 {...Mas tudu isso sô moçu, faiz tempu, ficô p’ra traiz
As coisas qui eu fazia, hoje num sô capaiz
U tempu mi robô tudo, essi marvado fugais
Falano a pura verdade, tudu aquilo num faço mais...}
Um velho de quase 100 anos sem eira nem beira num país distante do nosso ao morrer numa Clinica Geriátrica depois de consumir todos os rendimentos de sua aposentaria acreditava-se que ele não tivesse mais nada de... quaisquer valores. No entanto foi encontrado nas suas algibeiras, por surpresa, um papel amarelado e diminuído em quatro dobras. Observando o conteúdo, constatou-se tratar de uma poesia. Movida pela curiosidade uma enfermeira verificou tratar-se de uma peça de muito valor literário. A sua qualidade e conteúdo impressionaram a ponto de cópias serem feitas e postadas nas redes sociais. Esse velho, com nada para dar ao mundo, esta sendo agora o autor deste poema  navegando em toda a Internet. Na quarta estrofe ele narra assim a um enfermeiro:
 “[...Vou lhe contar quem eu sou... como continuo, ainda, sentado aqui,
Conforme posso fazer ao seu comando... como comer à sua vontade.
Eu sou uma pequena criança de dez anos... com um pai e uma mãe,
Irmãos e irmãs... que se amam.
Uma rapaz de dezesseis... com asas nos pés.
Sonhando que breve... uma amante ele vai encontrar...]
Ele evolui no tempo e no espaço como noivo, pai e avô com 30, 40,  60... anos.
E encerra:
“[... O corpo, ele se desintegra... graça e vigor, parte.
Existem agora uma pedra... onde uma vez eu tive um coração.
Mas dentro desta carcaça... um jovem ainda habita,
E agora, e de novo... meu maltratado coração incha.
Lembro as alegrias ... eu me lembro da dor.
E eu estou amando e vivendo... a vida outra vez.
Eu lembro que os anos, muito poucos... foram embora muito rápido.
E aceitar o fato gritante...  que nada pode durar.
Então abram seus olhos, pessoas... abram e vejam
Não um homem casmurro.
Olhe mais perto... veja... A MIM.”
Estas comoventes declarações de amor à vida fazem parte da maioria dos velhos e idosos aposentados em nosso país. O velho Mineirinho com a sua jocosa ironia e o letrado idoso com a sua poesia, todos retratando a via cruxis destas pessoas.
Que a população idosa do pais está evoluindo ninguém pode negar, porém que os governos, desde a década de 1930 com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões –IAPs, que o governo vem amealhando dinheiro dos contribuintes para atividades estranhas a Previdência Social. Dentre outras a Ferrovia do Aço, Usina de Itaipu, Rodovia Transamazônica e muitas outras faraônicas. Se nestes Fundos de Aposentadoria e Pensões estivessem aplicadas todas as contribuições previdenciárias para serem revertidas aos credores (aposentados) não faltariam recursos hoje. Portanto, os aposentados não sofreriam as penúrias  que têm padecidos.
O tratamento das autoridades governamentais brasileira aos seus idosos é o mais doloroso possível, elas que promulgam as Leis – como o Presidente do Executivo – e jactam de guardiões da Constituição – como o Presidente do STF foram as primeiras a desrespeitar, na realidade, os atos oficiais que publicaram. No governo de 1999 a 2002, quando o Executivo tentou bitributar os funcionários públicos a mídia brasileira estampou nas suas manchetes estas duas declarações: O Presidente da República tratar seus aposentados de “VAGABUNDOS”, e o Presidente do Supremo Tribunal Federal de “MATUSALENS CARCOMIDOS”.    



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