Destilação- José Augusto da Silva


Voarei um dia e me libertarei do pó que me constitui a carne.
Transformarei na realidade futura os sonhos presentes,
e na limpidez da paz vou purificar minh’alma,
abafada e trôpega por prazeres torpes e loucuras mil.
Névoa pura, delicada bruma,
desci outrora.
Dancei com a brisa, beijei o pó
e dele concebi a mácula,
assassina da pureza que tão cedo morreu.
Desde então, participo desta orgia,
no contato da mesma brisa
e do mesmo pó que me sufocam e açoitam.
E aqui rolarei, até que chova água pura,
as torrentes impetuosas me afoguem no íntimo de sua fúria
e me arrastem para o grande mar,
onde me perderei à espera da sagrada destilação.
Então, o GRANDE SOL me desintegrará.
Meus átomos se separarão
e, novamente, me tornarei névoa pura
e retornarei ao céu, onde serei a gota cristalina
colhida no cálice dos anjos
e apresentada aos pés do CRIADOR.





Comentários