O moço das estrelas- Lucília Junqueira de Almeida Prado


    Penso que todos, na infância, tiveram alguém a quem se apegara mais: mãe, pai, avó, padrinho, etc. Eu tive um tio... Era um moço tão bom que, quando foi convocado para a Revolução de 32, disse para meu avô: 
    “_ Vou para não ser chamado de covarde. Mas não darei um tiro, pois não admito irmão matar irmão”. Foi. O comandante, homem compreensivo, o fez soldado de ligação, desses que saem da trincheira, de rastro, para sondar a posição inimiga. 
    Nas vésperas da Revolução acabar, saiu para salvar um soldado ferido. Pisou num estilhaço de granada e morreu. Essa poesia é em sua homenagem. 
    Se algum dia você for à Praça da Biquinha, em São Vicente, procure e encontrará uma pedra rosada com os dizeres: “A Pérsio de Souza Queiroz Filho (Persito). Homenagem de sua cidade.”

Foi num dia,
num dia de valia,
que, em luta falaz,
marchou o audaz
povo do planalto,
planalto incauto,
por campos e serras,
chocaram-se então,
irmão contra irmão.

E vidas tão lindas
assim foram findas.
Tão lindas, tão lindas!
Nos seus vinte anos,
com tantos planos
e desenganos.
E o moço triste,
tão triste assiste,
que feia é a morte,
no rosto dos fortes.
E arma na mão,
na mão de um cristão,
atira para o céu,
nas pedras ao léu.
Matar para viver?
Antes morrer.

E vidas tão lindas
vivem ainda.
Tão lindas, tão lindas!
Estrelas luzentes,
no céu, de repente,
são os ausentes.

E o moço grave,
grave e suave,
na negra trincheira,
fita as estrelas,
tão belas no fundo,
no fundo do mundo,
palpitam tão puras,
como seu coração,
que poupou o irmão.



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