(Especial
para O DIÁRIO)
O grito do medo rebentou em teus ouvidos. E
depois o silêncio assustador que te envolveu. Não ouvir mais ruídos nem
murmúrios. Só o grito silencioso do medo dos medos; a solidão cruel e
inalterável. Os minutos escoam numa voragem larga e opressiva. Nenhum
passo salvador, nenhum eco a repetir uma voz esquecida, nenhum nada.
A expectativa vital em última agonia, prende todas as
esperanças como teia silenciosa e
imóvel. O vento frio e úmido choca-se com gritos de angústia, que se
elevam agudos das trevas noturnas, fundindo-se num gemido uníssono de miséria.
Os lamentos
prolongam-se alucinadamente sobre as cinzas que o vento louco espalha dentro da
noite. Vento que, depois timidamente se recolhe em surdina, deixando as cinzas
inertes pelo chão.
A
voz da esperança, num murmúrio suave, acariciante e monótono abala as vozes de
espanto e desespero. Tuas mãos descarnadas e secas acariciam submissas os
cabelos escorridos, lembrando o mel, que emolduram tuas faces maceradas. Tua
voz parece dizer:
“Deixe-me chorar o meu
pranto
E
banhar-me em lágrimas
Em
mortificações noturnas
E em
tormentos mil.
Deixa-me sozinho com a solidão,
Onde
procuro compreender a vida.
Deixa-me aqui com o desespero
Desfaço-me em soluços a recompor imagens...
Perto do silêncio sinto a melodia
Feita de tristeza, feita de alegria.
Deixa-me aqui junto a esse sol.
A
conquistar a luz
A crestar meu desejo
E me
aquecer enfim.”
Porém, no silêncio
dorme a grande solidão, e ouvidos mais puros poderiam ouvir os suspiros
perdidos na imensidão da noite morta. Depois... tuas mãos crispadas em
movimentos grosseiros tentam com esforço dominar o receio e o medo que crescem
nos olhos mortiços, espantando a vida. Pois tu bem sabes que:
“Naquele antro obscuro
Onde campeia uma sombra
Não quero entrar lá
não!
Pois lá habita uma sombra
Fria, cruel, impiedosa...
Pálida e escaveirada...
Não
quero entrar lá não.
Desejo louco de chorar
E
a voz não chega à boca:
_Leva-me daqui, por favor!
Tenho medo de morrer”.
E ali, paralizado de terror, olhos fora das órbitas
e cheios de lágrimas( secas) que caem, não sei de onde, sentindo o coração num
ritmo lamentoso e a boca sem sons, num ritus de amargura, não consegues mais te
dominar.Somente pensas e ouves o grito de medo, silencioso e triste, vendo a
morte se aproximar.E em vão buscas agarrar a vida que te foge
aceleradamente!...
Ribeirão Preto, 21-08- 1955
( In Memorian)
( Crônica de Alvim Barbosa quando colaborador do jornal O DIÁRIO de
Ribeirão Preto.
Muito lindo!!
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