Primavera! Embora seja seu
tempo, ela ainda não chegou...
Vivendo entre dois climas tão
diferentes como o Inverno e o Verão, às vezes ela tarda, pois as chuvas, num
imperdoável atraso, até agora não caíram. Assim, aquelas árvores sem folhas permanecem
com os galhos nus, enrijecidos para o alto, como a clamar por água, muita chuva
despejada para que seus brotos estourem e, aos beijos do sol, cresçam, cobrindo
a terra em radiantes verdes. É que, naquela região, a Primavera chega quase
sempre suja e rota como uma rainha apedrejada. Isso porque Primavera ali é
mulher que nasce enfastiada, sem anseios ou paixões, amadurece depressa, sem
viço, como fruta apanhada antes da hora. É mulher que vive como marginal entre
dois conflitos, o frio e o calor. Do primeiro herdou céu avelhantado, de um
azul desbotado, estradas petrificadas cobertas daquela poeira solta que, quando
assanhada, a custo de acama. E sempre o vento, restolhos daquele, que, em
agosto, foi tremendo, agora amainou, mas deixou tudo seco, pulverizado.
Por isso a Primavera na Alta
Mogiana é aquela estação de fugaz juventude: vendo-se de repente chegada ao
fim, num tardio arrependimento corre a enfeitar-se buscando recuperar o perdido
em todas as cores que possa arrecadar. No entanto, já nessa altura, vive pura
frustração, pois de tão elogiada Primavera, nunca teve nada! Tombadas as
tardias chuvas, o ar volta a abrasar, a luz é vivíssima e o céu ganhou aquele
tom de espesso anil como só sabe ser no Verão.
Mas, justiça lhe seja feita: é
a esses derradeiros dias da estação a quem a mãe deve a alegria de recobrar a
casa da fazenda outra vez cheia de risos, o quintal agitado pelo tropel de
cavalo a partir e, em abruptas estacadas a chegar, a piscina novamente
ressoante de vozes, de clamores, de apostas empenhadas, de imensos borrifos que
dela se levantam, luzindo ao sol como fogos de artifícios.
As férias chegaram!
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