Primavera- Lucília Junqueira de Almeida Prado


    Primavera! Embora seja seu tempo, ela ainda não chegou...
    Vivendo entre dois climas tão diferentes como o Inverno e o Verão, às vezes ela tarda, pois as chuvas, num imperdoável atraso, até agora não caíram. Assim, aquelas árvores sem folhas permanecem com os galhos nus, enrijecidos para o alto, como a clamar por água, muita chuva despejada para que seus brotos estourem e, aos beijos do sol, cresçam, cobrindo a terra em radiantes verdes. É que, naquela região, a Primavera chega quase sempre suja e rota como uma rainha apedrejada. Isso porque Primavera ali é mulher que nasce enfastiada, sem anseios ou paixões, amadurece depressa, sem viço, como fruta apanhada antes da hora. É mulher que vive como marginal entre dois conflitos, o frio e o calor. Do primeiro herdou céu avelhantado, de um azul desbotado, estradas petrificadas cobertas daquela poeira solta que, quando assanhada, a custo de acama. E sempre o vento, restolhos daquele, que, em agosto, foi tremendo, agora amainou, mas deixou tudo seco, pulverizado.
    Por isso a Primavera na Alta Mogiana é aquela estação de fugaz juventude: vendo-se de repente chegada ao fim, num tardio arrependimento corre a enfeitar-se buscando recuperar o perdido em todas as cores que possa arrecadar. No entanto, já nessa altura, vive pura frustração, pois de tão elogiada Primavera, nunca teve nada! Tombadas as tardias chuvas, o ar volta a abrasar, a luz é vivíssima e o céu ganhou aquele tom de espesso anil como só sabe ser no Verão.
    Mas, justiça lhe seja feita: é a esses derradeiros dias da estação a quem a mãe deve a alegria de recobrar a casa da fazenda outra vez cheia de risos, o quintal agitado pelo tropel de cavalo a partir e, em abruptas estacadas a chegar, a piscina novamente ressoante de vozes, de clamores, de apostas empenhadas, de imensos borrifos que dela se levantam, luzindo ao sol como fogos de artifícios.

As férias chegaram!



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