Ajudem-me! Não consigo mais escrever! Meu editor interno me persegue!- Sérgio Kodato

            Por que será que não consigo mais escrever? As frases e en-cadeamento das palavras não deslizam mais com saber & sabor! Será a internet que entretém e intrometi na atenção e concentração? Parafrenia? Demência precoce? Será o bloqueio pré-parkisoniano do cérebro, em função de neurônios feridos mortalmente por anos de vida etílica, tóxica, colesteirozenta, desregrada e mal-amada?
Paranoia! Que aflição angustiante e protomórfica... ou seria uma leniência pirambolesca? Saudades da época em que eu balouçava e rebolava um bambolê nas minhas cadeiras. Minha cabeça escrevinhadora era tão lépida e transicional... uau! Etaaa, época boa, em que idolatrávamos os Beatles e os Rolling Stones, o amor era free e a madrugada serenosa delirava uma romântica poesiatransmutante. Que lirismo chicoso, úmido e lancinante!
Fico horas na frente da tela branca do Word e o dedilhar no teclado não vinga, dancei, me ferrei... Quando o desespero do não escrever impotente cresce assustadoramente, desando a tomar overdoses de café extraforte com aspirina, mais cafeína, pra fazer o calhambeque cognitivo pegar no tranco e no barraco. Nada, bateria pifando, tá com o motor quase fundido, tá brochado: ginseng, Enxaq, Nootropil, Lexotan, Bromazepan, guaraná em pó, catuaba... nada da escrita inspirada e criativa aparecer... Penso em Van Gogh, o suicidado!
Diante da iminência de uma síndrome mista de ansiedade e depressão, recorro à geladeira para um pouco de prazer e gratifica-ção neurótica. Salivando em frente ao templo do prazer oral, passo a realizar uma análise combinatória das comidas gostosas, com arran-jos, permutas e combinações = mexido à mineira, arroz e feijão re-quentado e bife à camões... ou à cavalo? Estrogonofe com sardinha em lata e vinagrete do sábado? Melhor um sakê com miojo. E o sono agitado, transcendente, rangente... Recorro ao neurologista para um pouco de Ritalina - acho que tenho TDHA desde criancinha e não sabia. O médico japonês recusa a me receitar e ainda me acusa de intenção dedoping, pode?
Depois de muito sofrer e ficar parado, tal e qual um poste, recorro ao método oriental para uma escrita criativa: dedicação, disciplina, transpiração, artes marciais, música para a alma, verde, muito verde na comida, no olhar, nas viagens. E leitura de provérbios:

“As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas. Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota. Até a jornada de mil milhas começa com um pequeno passo. Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, VIVA o que eles sonham”.

(Provérbios japoneses)



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