Foi numa noite de frio intenso quando, João da
Rua, como era conhecido, se sentiu em maior desalento.
De todos os seus dias de morador de rua, cujo tempo já
se estendia por quatro longos anos, aquela noite do mês
de julho de 2004, estava sendo a mais fria.
João da Rua tornara-se conhecido das pessoas da vizinhança
e ninguém o aborrecia no lugar onde dormia.
Conseguira pedaços de velhos cobertores que achara no
lixão da cidade, e com eles se abrigava, mas, naquela
noite, pouco estavam servindo.
Já eram três da madrugada e ainda não tinha dormido.
Aflito e incomodado pelo frio, resolveu dar umas
voltas pelas imediações para movimentar o corpo e ver
se se aquecia. Descobriu, por acaso, um local aconchegante,
onde o frio não era tanto. Até lhe pareceu estar
diante de uma lareira que, embora invisível, fazia do
lugar um santuário.
Diante daquele achado pegou seus pertences, e se
mudou pra lá. O local tinha uma aura de mistério, como
se houvesse uma separação entre dois mundos: um do
passado e outro do futuro.
Percebeu que seu novo abrigo ficava numa fenda,
entre dois paredões de pedra e, sobre eles, uma
laje, ideal para seu repouso noturno. De um lado
era quente do outro, normal. Entretanto não pode
ficar muito tempo naquele aconchegante lugar para
passar suas noites.
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Numa delas acordou de madrugada, assustado,
com o ambiente se desmoronando. Era um terremoto
que, por sorte, não o atingiu.
Viu, então, que sua lareira invisível fazia parte de
um forno de uma olaria em atividade.
Felizmente, ao descobrirem que o terremoto destruíra
as instalações da olaria e, com ela o abrigo de João,
os proprietários deram-lhe assistência providenciando-lhe
um lugar melhor para morar.
Mas, aquele abrigo ficou para sempre em sua memória
e, quando contava sua história, dizia sentir saudades
daquele lugar e de sua lareira invisível!
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