O ano era 1990, o jovem Júnior tinha 14 anos, trabalhava
e estudava música clássica na Orquestra Sinfô-
nica de Ribeirão Preto. No final daquele ano ele saiu de
férias, rumo a uma fazenda em Quirinópolis-Go. Chegando
lá, todos lhe trataram muito bem, principalmente
o vô Bedego, que orgulhoso dizia que seu neto Júnior
estava estudando para ser músico.
Bom, até aí tudo bem. Mas na verdade, Júnior não
tinha vocação para música e sim para literatura, entretanto
ele aproveitou esse trunfo com o vô Bedego para
se dar bem nas férias... O vô Bedego mandou Cristiano,
irmão do Júnior, capinar o quintal com o primo Alexsandro,
como era de costume, mas Alexsandro retrucou:
– Mas tio, não é justo eu e o Cristiano trabalharmos,
enquanto aquele folgado do Júnior fica comendo, dormindo
até tarde e passando o resto do dia sem fazer nada.
– Alexsandro! Alexssandro! O Júnior está estudando
dentro do quarto, para um dia ser músico – argumentava
o vô Bedego.
– Tio, o Júnior está lhe fazendo de bobo, ele só finge
que está estudando para ficar no bem bom, aquele lá é
macaco véio. Ele nem gosta muito de música, não tem
vocação, fica lá repetindo aquele Bona em voz alta, é
para enganar o senhor.
– Alexsandro eu já lhe disse, chega de implicância,
pelo menos ele está fazendo alguma coisa pelo próprio futuro,
e você precisa capinar já que não está fazendo nada.
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Entretanto Alexsandro e Cristiano não se deram por
satisfeitos e continuaram alertando o vô Bedego, até que
sua cabeça começou a coçar, e quando isso acontecia não
era bom sinal... Ele começou a desconfiar. Júnior acordava
depois das dez da manhã, só saia do quarto para
comer, beber, andar a cavalo e se divertir no quintal.
Certo dia, já passava das onze horas da manhã, e
Júnior ainda estava dormindo.
De repente ele ouviu o chute na porta que destravou
a fechadura que estava trancada.
Era o vô Bedego, que descobrira a farsa. Júnior não
estava estudando, estava dormindo. Vô Bedego esbravejou:
– Agora chega! Sê besta tem limite! Acorda agora
Curujéia! Seu angu! Acorda angu! Molenga, cê tá de
Curujéia é? Acorda Curujéia! Vai Curujéia! Levanta, seu
Curujéia! Ocê não estava estudando coisa nenhuma, estava
era dormindo, Curujéia.
Vô Bedego pegou Júnior pelo colarinho, entregou
uma enxada na sua mão e o mandou ir capinar durante
o resto do dia. Cristiano e Alexsandro riram muito.
No final de tudo, como sempre, Júnior enrolava e não
capinava quase nada, mas o apelido pegou, onde Júnior
passava todos lhe chamavam de Curujéia – Olha lá vai
o Curujéia!
De acordo com o vô Bedego, Curujéia está relacionado
à preguiça, a coruja que passa o dia dentro da toca
dormindo. (coruja-corujéia).
Homenagem póstuma de Max Wagner ao seu avô Elviro Teodoro Muniz (Bedego).
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