Garra Cabocla- Alceu Bigato


Amanhã de manhã pego a mala
que hoje providenciei.
Chapéu velho e roupas usadas,
par de botas, que num canto achei.
Quase nada de uso pessoal,
mas mesmo assim, partirei.
Não faz mal se estou sem dinheiro.
Pedirei carona e quanto ao paradeiro,
confesso que ainda não sei.
Não existe mulher nessa história.
Nunca tive um caso de amor.
Meu problema é o espelho vivo
das angústias do lavrador.
Arrendei um pedaço de terra,
pelo seu relativo valor.
Veio a seca, enchente e a geada,
fiquei sem colher quase nada,
mergulhei no saldo devedor.
Mas eu vou insistir na lavoura.
Cidade não me atrai.
Viverei com as mãos calejadas,
a exemplo do meu velho pai.
Quem é filho nativo da terra
também gira, mas dela não sai.
Vou plantar e colher noutras áreas.
Velha conta e a correção monetária
pagarei, sem ninguém vir atrás!

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