Ilusão- José Micheli

    Nessa pequena e curta construção de poucos e simples escritos, não por egoísmo, algumas vezes me pego dialogando na vastidão ideias e sentimentos interiores. Penso sinceramente não ser um ególatra.     Personagens foram criadas, inclusive, Beatriz Helena, que amo e acredito, sempre amarei enquanto houver existência de memória. 
    Vejo-a em todos os lugares por onde passo, nas ruas, avenidas, praças, no mercado, nos shoppings procuro-a na multidão, nas igrejas, tento identificá-la e relacioná-la com as pessoas presentes. Nos livros, ela está sempre presente. Nas madrugadas, antes de raiar o dia ou próximo, ainda no escuro vejo-a sorrindo ou não. Ao levantar, confirmo o novo dia, contemplando o céu. Procuro alguma estrela que ainda possa lá estar. É ela, imagino, Beatriz Helena, deixando-me contemplá-la, antes de recolher-se. Porque estrelas, podemos apenas contemplá-las, na sua própria luz e isso não é pouco. Preocupa-me, quando em sua feição não vejo discreto sorriso. Sem qualquer justificativa, compulsiva e incontida ansiedade leva-me a pensar que não esteja feliz. 
    Alguém, insuspeito amigo, comentou em tom de pergunta carinhosa e até literária. – Quem será essa musa, tão amada, tão querida, tão linda? O escritor argentino Jorge Luiz Borges, muitíssimo conceituado sobretudo no estilo de literatura fantástica, 81 em um de seus livros, penso ser “O Aleph” , discorreu sobre uma personagem chamada Beatriz Helena, porém, em circunstâncias diferentes. 
    Ao lê-lo, fiquei apaixonado pelo nome e pelo relato, aliás de todo o livro. Difícil, mas muito interessante. Quando a imensa afeição levou-me a adoção de Beatriz Helena, para viver comigo na imaginação e lembrança, trouxe a personificada e linda imagem. Quase a mesma que habita esses horizontes desde a crônica escrita em 1.992 ou por volta disso. Simplesmente linda, capaz de apaixonar um coração sofrido, ou não, como o fez a imagem de “Monalisa” a seu modo. Depois disso, por ignorado propósito incorporei-a de forma compulsiva a uma pessoa, ou especificamente a sua imagem. Dessas que passam naturalmente em nossas vidas, sem nenhum envolvimento, mas que deixa algo que não sabemos explicar. Sem nunca ter ouvido sua voz, claramente, trocado palavras com algum sentido, apenas tocando sua linda imagem, com olhar que não quer obedecer ao pedido para ser discreto. A dona desse enigma e inspiradora de tudo, és tu, Beatriz Helena.





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