Era a década de quarenta, no período pós-guerra. As moçoilas passeavam na praça, de braços dados, geralmente em duplas ou trios. Os rapazes ficavam parados em pequenos grupos discutindo futebol e paquerando as meninas.
Entre os rapazes se ouvia:
¬ “Acho que aquela loirinha de vestido amarelo está paquerando você!”, dizia um deles.
¬ “Tive a impressão que ela olhou para você”, respondia o outro, timidamente.
Entre as garotas o tema era o mesmo:
- “Veja que rapazola garboso. Deve ser novo por aqui. Pode ser de outra cidade”, falava entusiasmada uma das moçoilas.
- “Bonitinho, mas aquele paletó é tão démodé!”, dizia a outra.
O auto-falante do sistema de som da praça tocava as músicas da época alternadas com propagandas e dedicatórias. Estas geralmente eram feitas pelos rapazes, mais ousados, para suas escolhidas.
O locutor em voz pausada e melosa anunciou: ¬ “Elias oferece para Mariquinha, com muito respeito, o grande sucesso do momento: A deusa da minha rua com Orlando Silva”.
¬ “Escute Quinha, é para você!”, dizia uma amiga. Mariquinha, distraída, não havia percebido.
Orlando Silva caprichava:
“A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol num dourado sonho
Vai claridade buscar
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz...” *
Quinha morava na casa em frente daquela onde morava Elias, que já a paquerava pela janela, sem sucesso. Mariquinha ainda não estava interessada em namorar para casar, mas somente namoricos. Elias queria um compromisso sério.
A ousadia de Elias propiciou o namoro. Daí ao casamento foi só questão de tempo. Como fruto dessa união, para alegria da família, nasceu Edson, o único filho do casal.
A deusa da minha rua é minha música preferida. Não poderia ser diferente. Sem ela eu não teria nascido como filho de Maria e Elias.
* Música de Newton Teixeira com letra de Jorge Farah.
Comentários
Enviar um comentário