ADEUS MILLÔR Edson Garcia Soares


            Millôr Fernandes, carioca do Méier, cujo registro de nascimento mostra a data de 27 de maio de 1924, mas na realidade seria 16 de agosto de 1923, morreu em Ipanema, aos 88 anos de idade, no dia 27 de março de 2012.
            Registrado como Milton, que na certidão manuscrita tinha o corte do t parecendo acento circunflexo e o n parecendo r. Então, entendendo como Millôr aquilo que estava escrito, adotou o nome.
            Penso em Millôr como o maior filósofo contemporâneo de nosso país. Era notável quando conseguia passar o recado em poemas curtos, que ele chamava de hai-kais, embora não seguissem as regras dos poemas japoneses dessa denominação. Em seus hai-kais brincava com o próprio medo, particularmente o medo da morte:

"Envelhecido, cheio de saudades
Ando na multidão
Sempre na mesma idade"


"Passeio aflito;
Tantos amigos
Já granito"

"Nem é segredo;
Sou feito de pó, carência,
Vaidade – e muito medo".

            Relendo seus escritos é comum encontrar referências ao viver e morrer, como: “Uma das coisas mais impressionantes do ato de viver é que a morte é compulsória e a vida não.”
            Essencialmente crítico, brincava com as palavras, geralmente com um toque de humor, mesmo em coisas tão sérias como: "Viver é desenhar sem borracha”. Que profundidade aliada à simplicidade ao dizer quanto devemos estar atentos aos nossos atos, pois seus efeitos são permanentes, não se apagam.
            Ciente de suas qualidades e limitações sabia brincar com a vaidade ao dizer: “Eu só não sou o homem mais brilhante do mundo porque ninguém me pergunta as respostas que eu sei.” Também criticava o orgulho ao escrever: “Todo homem é seu valor dividido pela sua auto-estimativa” ou ainda: “Quando o cara diz que fala por experiência é porque ainda não adquiriu experiência bastante para calar a boca”.
            Neste mundo de mediocridades é uma pena que uma mente tão brilhante tenha chegado ao seu momento de nos deixar. Que perda! Seu tempo entre nós findou, sem ser sua vontade, como ele demonstrou quando disse:

"É meu conforto
Da vida só me tiram
Morto."

E foi o que ocorreu.
Perdemos a pessoa, mas seus escritos serão eternos. Entretanto, a sua ausência provocou um vazio na produção literária nacional. Sentiremos sua falta.











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