Cartas para ninguém- Tatiane Santos Melo



Se eu pudesse escrever uma carta para você, 
escreveria em um papel bem bonito.
Pediria emprestado o dom poético à Clarice Lispector,
Carlos Drummond de Andrade, 
Mário Quintana ou à Cecília Meireles.
Escreveria nessas folhas bonitas todos os meus sentimentos.
Borrifaria o meu perfume sobre a carta para que, quando a abrisse, 
de certa maneira sentisse minha presença.
Mandaria também, juntamente com a carta, bombons, 
para mostrar o quanto sou romântica e 
o quanto me importo em agradar você.
Tentaria escrever o mais legível possível e, com a arte de um calígrafo, 
poderia expressar esse meu doce amor.
Assim que a carta fosse entregue, ficaria indagando comigo mesma. 
- Será que ele gostou?
Sentiria borboletas pelo estômago pela tarde inteirinha 
na espera de notícias vindas de você.
Mas, se não me viessem notícias suas, tão mal eu ficaria.
Me sentiria uma verdadeira idiota por demonstrar o meu verdadeiro eu 
e por acreditar que você era o que eu supunha ser e não era.
Como castigo, trancaria a minha alma e o todo o meu sentimento 
no mais profundo do meu ser.
Como penitência, não escreveria cartas para ninguém.


12a. Antologia Ponto & Vírgula - Pág. 126 


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