Um dia, uma tarde, uma noite- Adriano Pelá

Fim de tarde de uma dia ensolarado e muito quente, eis que ao longe surgem tímidas nuvens lá pelos lados de Cristópolis, talvez anunciando para os próximos dias chuvas, ansiosamente esperadas. Afinal, é o sertão baiano, onde dizem é muito seco. Contudo, aquela região não conhece aridez  de deserto, um vale onde serpenteia um rio caudaloso por onde transitam enormes embarcações e comboios de balsas levando e trazendo pessoas, mercadorias e gado,  onde resiste ainda o  comércio fluvial, um armazém completo,  embarcado, que transita pelo rio, abrindo suas portas para as cidades, um povoado ou uma família, à beira rio, e sobe e desce   com sua  sirene característica avisando a passagem.
Vale de fartura onde se encontram árvores frondosas, imensas, talvez centenárias, formando as matas que amenizam o clima, garantem o  rio e as chuvas tão necessárias àquele sistema. Nesse lugar livre do agito das cidades industrializadas, cheias de vibrações geradas pelos carros, máquinas e angústias da luta pela vida, eis ali um pedaço do paraíso, um oásis primitivo onde não existe pressa, poluição sonora ou ambiental. Dispõe de um céu inspirador dos mais poéticos sentimentos, tornando palavras por mais rebuscadas que se possa lançar mão no repertório literário pobres e pequenas para descrever a magnitude de uma abóboda celeste livre da interferência da civilização. E ali, longe do meu mundo habitual  deixo-me levar pela tranqüilidade do lugar e esparramado em um tronco de árvore posto a secar, fico observando atentamente a vida plácida que se desenvolve naquele paraíso, observando o sol que se esconde lentamente no horizonte, e a passarada anunciando o fim do dia,  talvez dando as últimas revoadas, desenvolvendo um balé aéreo de extrema leveza e graça dando voltas, subindo e descendo, cantando alegres como antegozando o momento de recolherem-se ao abrigo do ninho confortante. Aproveitando-me de uma aragem que começara a pouco fiquei ali deslumbrado com o momento,  sentindo o vento e pude   entender a ambição de Ícaro ao tentar voar. Um imenso céu azul, que ao anoitecer transforma-se em um azul de mar profundo, ornado de radiantes e límpidas estrelas. E colocando-me como espectador daquela enorme demonstração da grandiosidade da natureza em seu estado primitivo, onde a mais endurecida alma há de quedar-se diante daquela visão idílica.











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