Uma auditora do Confisco me assedia- Ithamar Vugman




                Sou professor aposentado da USP. De há muito cruzei a barreira dos 80 anos. Há quase seis décadas faço minha declaração anual do Imposto de Renda. Muito imposto, pouca renda. Nunca tive qualquer problema. Tenho uma única fonte de rendimentos. A USP. Não sonego impostos. Entretanto, este ano tive uma surpresa desagradável. Pela primeira vez, caí na assim chamada malha fina. Não, não soneguei nada. Com algum esforço, descobri porque cai na malha fina. Minha restituição é um pouco maior do que a de anos anteriores. Converti-me, automaticamente, em um sonegador. Um terrível fraudador da lei, Uma restituição maior causada por despesas com cirurgia. Para a Receita Federal, restituição maior do que a usual constitui indício seguro de sonegação fiscal. O contribuinte é imediatamente classificado como criminoso e tratado como tal.
                Começa minha odisseia. A auditora considera inidônea a declaração anual fornecida pela USP. Exige a apresentação de todos os comprovantes, mês a mês, originais, do ano anterior. A USP desconta de meu salário uma pensão alimentícia. A auditora exige a apresentação da sentença do juiz concedendo minha separação judicial, ocorrida em 1984. Também exige a petição inicial feita pelo advogado neste processo, Tudo devidamente autenticado.  Desde 1984 este pagamento consta de minha declaração do Imposto de Renda. Entrego todos os documentos exigidos, Alguns dias depois recebo uma intimação exigindo a apresentação, em no máximo 20 dias, de fotocópia e/ou extrato bancário mostrando que o cheque usado para pagar meu dentista fora compensado. Caso não o faça, serei considerado oficialmente um criminoso e sujeito às penas da lei. Depois de algum tempo sou removido da malha fina e recebo minha restituição.
                Escapa a minha compreensão a razão de tantas exigências esdrúxulas, irracionais. É difícil imaginar o que se passa na pobre mente doentia de uma auditora da Receita Federal. Talvez seja tão somente uma manifestação de sadismo. A ciência já comprovou: auditores são geneticamente sádicos. Sei que a auditora recebeu uma gratificação e uma medalha de honra ao mérito por sua criatividade. Um exemplo a ser seguido. Ela foi citada no jornalzinho da Receita Federal. Será promovida. Por outro lado, há fortes evidências comprovando a existência de um plano sinistro urdido pelo ConFisco para desestimular o contribuinte a solicitar uma restituição. Qualquer restituição. Por mais ínfima que seja. Que Deus se apiede dos auditores da Receita Federal.´





Comentários