Onde fixar raízes- Thereza Freirez



Somos amadurecidos
pelos extensos dias em movimento,
pela memória desintegrada,
pelo alongamento da luz do sol na pele.
Já conhecemos os limites do próprio nada
e a fragilidade de quem fica conosco,
se o riso for até de madrugada.
Somos amadurecidos
pelo vento que desliza sobre nosso rosto,
pelo alto da tarde inacabada,
pelos enterros que a cada noite
em nós, se faz necessários.
Somos amadurecidos
pelos nossos gemidos erguidos sem eco,
pelo contentamento perdido em passos antigos.
Já conhecemos a saudade
que num suspiro toma o espaço
maior que a própria vida.
Uma morada sem janelas
já começa a criar forma,
coroando o infinito de beleza límpida ou póstuma.
Somos amadurecidos
pelo o nosso pó que é a viva expressão do nada.



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