O BIQUINI ILUMINADO- Sérgio Roxo da Fonseca

    Somos animais? Apenas animais? Ou estamos acima dos irracionais? Os gregos certificaram que os homens não eram deuses, mas estavam sobre a categoria dos irracionais. Souberam criar a ética.
Daí se extraiu a ideia segundo a qual o homem é irmão de todos os homens, marca de sua grandeza. As palavras bíblicas consagraram a norma: “ama teu próximo como a ti mesmo”.
    Montesquieu, em “Cartas Persas”, elevou a conduta pregada pelo Iluminismo: a grandeza da humanidade pode ser identificada na igualdade existente os homens. Voltaire, em seu dicionário, concluiu que “o homem não foi feito por Deus para morrer na guerra”. Na antiguidade, reversamente, Plauto ex-clamou que o “homem é o lobo do homem”, tema que foi vulgarizado por Hobbes. Hoje com quem fica a humanidade?
    Com a TV o homem comum tem acesso a trabalhos que tem como assunto o comportamento dos animais irracionais, quase sempre aqueles que habitam a África. Mas não apenas eles.
    Os leões, os leopardos, os elefantes não matam seus semelhantes. Leão não mata leão. Leopardo não mata leopardo. Elefante não mata elefante. Consagram a regra segundo a qual não pode existir violência entre os iguais. Ou quase nunca.
    E a humanidade? Qual o destino da humanidade? Segue os caminhos revelados pelo Iluminismo ou pela irracionalidade? Hoje somos tão ou mais irracionais do que os animais irracionais? Teme-se que a humanidade corre disparadamente para a irracionalidade.
    Alemães e russos travaram duas grandes batalhas. A de São Petersburgo, 1943, e, Leningrado, 1944. Na primeira morreram dois milhões de seres humanos, grande parte de fome. Na segunda, um milhão e meio.
    No dia 6 de agosto 1945, os americanos lançaram a primeira bomba atômica sobre alvo civil, a cidade japonesa de Hiroshima, matando por volta de 166 mil criaturas. No dia 15, outro artefato foi lançado sobre Nagasaki tirando a vida de 80 mil pessoas. Logo após, o atol Biquíni foi transformado em pal-co para novas experiências atômicas. Em seguida forças americanas invadiram pelo menos a Coréia, o Vietnã e o Iraque.
    Em 11 de setembro de 2001 foram deflagrados vários atentados no território americano, atingindo até o Word Trade Center, matando cerca de 3.000 pessoas. Atribui-se o ataque a forças terroristas.
Em abril de 1917, forças norte-americanas despejaram no Afeganistão a “bomba-mãe” para eliminar uma comunidade do Estado Islâmico. Trata-se do artefato mais violento criado pelo homem, abaixo da bomba atômica.
    A racionalidade humana caminha pelas veredas reveladas pelo Iluminismo ou pela irracionalidade abaixo da animalesca? A força bruta esmagará o que resta da moral, da ética e do direito? O Iluminismo está apagando suas luzes, fazendo descer trevas sobre a humanidade?
    Antes tínhamos a Sociedade das Nações que antecedeu a ONU hoje enfraquecida de dar dó. Temos, portanto, o dever moral e político de enfrentar estas questões para que a humanidade não retroceda para trás de 1789, consagrando o reinado da força sobre a civilização humana.

Ponto & Vírgula - No. 13 - Pág. 65
Editora FUNPEC
Coordenação de Irene Coimbra




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