O OUTONO DA EXISTÊNCIA- Heloísa Martins Alves



O Outono é a passagem entre o Verão e o Inverno.
É um tempo morno. 
Na existência da vida, Liliane está vivendo os dois outonos: o da vida e o da estação.
Mulher de 70 anos, linda, traz no rosto marcas sutis dos tempos bem vividos. 
Elegante, educada, mas solitária já algum tempo, pela sua viuvez, precisa de uma guinada na vida. Quer passar um tempo sem data de retorno fora de seu lugar de origem. Deseja viver uma história de amor, verdadeira, nem que seja a última, antes do Inverno da vida chegar e a levar para outro plano, onde não existem estações. 
Parte para a Itália e vai viver em Roma .
Como boa católica vai à igreja de Santa Maria Maior e pede, com fé, que se concretize o seu desejo: viver uma linda e verdadeira história de amor. 
Sai da igreja e vai caminhando até o lugar onde alugou o apartamento para sua estada. 
Na portaria do prédio conhece Pepe, o porteiro. Setenta e cinco anos, mais ou menos. Muito elegante, com uma linda echarpe de seda no pescoço, chama sua atenção pelo porte, delicadeza e também pelos belos cabelos grisalhos.
Se encanta com ele, tão gentil e alegre que, dia após dia, desce do elevador e a cumprimenta: 
- Bongiorno, senhora Liliane!
- Bongiorno, Pepe!
Até que um dia, retornando de suas compras, carregada de sacolas, ele lhe diz: 
- Por favor, eu a ajudo. 
Sobe com ela até o apartamento e ela o convida para um café. Ele responde, delicadamente, que aceitaria depois do expediente. 
Liliane prepara uma grande mesa com queijos, bolo, torta, café e um delicioso licor. 
Espera-o com ansiedade. A campainha toca. Abre a porta e os dois, meio sem graça, olham-se. Ela o convida para entrar: 
- Seja bem vindo, entre!. 
Ele entra e começam a conversar sobre as suas vidas. 
Os dois são viúvos.... Olham-se, sorriem, sentam-se à mesa e conversam, animadamente, enquanto saboreiam as delícias preparadas por ela. 
Saem da mesa, sentam-se no sofá e ela lhe serve um cálice de licor. Ao tocar-lhe a mão, sente um choque... É a libido ainda está presente no outono da vida...
Bebem vagarosamente. Ela pega-o pela mão e se encaminham para o quarto. Ele tira sua roupa e a dela, com suavidade, deixando-a nua. Arrebata-a, como um jovem na noite de núpcias. Murmuram palavras doces e outras apimentadas. Riem e se divertem muito. Amam-se... 
Nunca foram tão felizes. 
Ela adormece ele vela o seu sono. 
E assim seguem até o dia que o amor e o desejo não mais existir ...

Antologia Ponto & Vírgula - No. 13 - Pág. 36
Editora FUNPEC
Coordenação de Irene Coimbra




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