Um tango para Astor Piazzolla- Cláudio Chinaski




É comum o ser humano chorar a morte de entes queridos e seguir vida afora carregando o luto, mas só os gênios da raça são capazes de transformar dor em arte. Astor Piazzolla converteu suas dores em algumas das mais belas melodias do nosso tempo. Uma delas, Adios, Nonino, um réquiem sentimental composto em homenagem a seu pai, falecido em 1959, é considerada sua obra-prima.
Mas a vida e a obra de Piazzolla ultrapassam, e muito, o estereótipo de "artista de uma só obra".
Astor Pantaleón Piazzolla nasceu em 11 de março de 1921 na cidade argentina de Mar del Plata, filho único de um casal de imigrantes italianos. Em 1925, a família se mudou para Nova York, onde permane-ceu por mais de uma década. Astor se envolveu com a música desde cedo: aos 8 anos ganhou de seu pai seu primeiro bandoneón e aos 9 começou a estudar música clássica com um pianista húngaro.
Aos 14 anos, ao participar como extra no filme “El Día que me Quieras”, conheceu Carlos Gardel e foi convidado para integrar sua nova turnê. Seus pais não autorizaram e salvaram-lhe a vida. Meses depois, Gardel e sua equipe viriam a falecer em um acidente de avião.
Em 1937, a família Piazzolla retornou definitivamente a Mar del Plata, onde Astor fez suas pri-meiras apresentações. 
Em 1952, ganhou uma bolsa do governo francês para estudar com a lendária Nadia Boulanger, que o incentivou a seguir seu próprio estilo. Em 1955 retorna a seu país e fixa residência em Buenos Aires, formando o Octeto Buenos Aires. Sua seleção de músicos termina delineando arranjos atrevidos e timbres pouco habituais para o tango, como a introdução de guitarra. Elementos do jazz são igualmente integrados às suas composições, gerando desconforto e críticas dos músicos do tango tradicional.
De forma irônica ele chama seu estilo de “música popular contemporânea da cidade de Buenos Aires”. Mas isso não era tudo: Piazzolla provocava a todos com sua vestimenta informal, com sua pose para tocar o bandoneón (de pé, quando a tradição era fazê-lo sentado) e com declarações cada vez mais po-lêmicas.
Começou a trilhar um caminho de sucesso que teria picos na musicalização de poemas de Jorge Luis Borges (1965), na composição da ópera-tango María de Buenos Aires (1968) e na canção Balada para un Loco (1969) junto ao poeta Horacio Ferrer e o saxofonista Gerry Mulligan (1974), em concertos memoráveis no Philarmonic Hall de Nova York (1965) e no Teatro Colón de Buenos Aires (1972 e 1983), entre outros.
Em seus últimos anos, Piazzolla preferiu se apresentar em concertos como solista acompanhado por uma orquestra sinfônica ou por seu grupo. Foi assim que percorreu o mundo e ampliou a magnitude de seu público em cada continente.
Astor Piazzolla casou-se duas vezes e teve dois filhos, Daniel e Diana. Faleceu no dia 4 de julho de 1992, quase dois anos depois de sofrer um derrame cerebral. Seu túmulo está em um cemitério particular em Buenos Aires; sua música, sempre muito vibrante, prossegue encantando gente do mundo inteiro.


Crônica de Cláudio Chinaski, em Destaque, na 44a. Revista Ponto & Vírgula - Página 7.







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