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Ficar
Adriano Roberto Pelá
Cruzo meu olhar com o seu.
Vejo olhos tranquilos que aguardam.
Sinto sua paz...
Fico em paz, me faz bem!
Penetro em seu mundo e
sou envolvido...
Atmosfera leve, tônico salutar,
ambiente revigorante, deixo-me ficar.
Há vida aqui, longe, o que será?
Deixo-me ficar!
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Nenhuma delas é minha, mas...
Alceu Bigato
Do outono não sou dono, do verão também não.
Da primavera, quem me dera!
Nem do inverno. O dono é o Pai eterno.
Mas Ele pode me dar da primavera,
além de amizades sinceras, néctar para as abelhas
do meu pedacinho de terra.
Do verão, a voz da razão,
independente da voz do coração.
Do outono,
a paz durante o dia para boa noite de sono.
E que mesmo sem ser abandonado,
sentir a dor do abandono.
Do inverno,
trocas de beijos, mormente os fraternos.
E que o amor dos meus pais para comigo
seja igual ao meu amor paterno.
Para finalizar, não sei se é pedir demais:
folhas em branco nas mãos dos seres humanos
para anotarem com a caneta da paz
as maravilhas das quatro estações do ano.
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Esperança
Luzia Madalena Granato
Com o relógio do tempo,
faço a Vida acontecer.
Com esperanças,
busco luz e amor.
Solto as correntes do medo.
Das colheitas que tenho,
só por amor, meu corpo caminha.
Aprendi escolher outros caminhos
certos do coração, que não se engana.
A vida me ensinou a me amar.
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Eu sou
Lima Neto
Eu sou a lua a desabrochar ao vento
e as estrelas do mais profundo sonho.
Eu sou a chuva a chorar nos campos
a linda morte do cair do dia.
Eu sou silêncio meio perdido em sono,
no despertar de um coração aflito.
Eu sou perfume do amor mais puro
e o cantar de um pássaro esquecido.
Eu sou saudade na sombra do passado
e a solidão morrendo mais vazia.
Eu sou um homem a viver de sonhos,
na realidade de morrer um dia.
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Liana pensa ter visto um vulto...
Perce Polegatto
Liana pensa ter visto um vulto de mulher à margem do acostamento. Não. Era o resto de uma árvore cortada. Sente ainda em seu corpo as vibrações do sexo recente, de uma tarde em que Danilo estava especialmente ativo. Intenso, ela chegou a pensar. Quase agressivo. Alguns movimentos se repetem como os fantasmas de partes amputadas, que parecem estar ali e não estão. Mas nesse caso é diferen-te, sim, ela o sente como uma vibração tardia, um mínimo latejar somado a contrações também pouco identificáveis, sumidas entre pulsações, como se estivesse sendo penetrada ainda, muito sutilmente. Liana já caiu na espiral entorpecida de seu transe, um estado de quase sonolência, destoante de seus olhos abertos, bem abertos, fixados na rodovia à frente, na chuva que dilui as formas. Um estado gradu-almente irresistível, embalado pelo som suave do motor, pelo ruído contínuo da chuva e por seu próprio cansaço mental. Era uma mulher, sim, à beira da estrada, era uma moça encharcada, parada lá, cortada, era uma moça cortada como uma árvore cortada, como um resto de árvore, um pouco curva, um pouco triste, um resto de moça cortada. E eu aqui, neste assento aconchegante que... É um fantasma lá fora, um fantasma cortado sob a chuva, o fantasma de Ana Lúcia, ela quer me falar, ela me fala, eu posso ouvir... Você sabe. Só você sabe. Eu não sei, Ana, eu não consigo saber, eu não tenho certeza. Só você sabe. Não me deixe morrer. Eu não quero morrer para sempre. Só você sabe. Me ajude. Me ajude, Liana. Era uma árvore, uma árvore cortada. Era ela. Tenho vergonha, querida, de ter sido possuída por esse mesmo homem hoje, não queria que você soubesse disso, não queria que você soubesse que ainda sinto em meu corpo, em minha intimidade, até mesmo nos meus seios mordidos, as marcas do seu executor, esse homem atraente e amável, que esconde, num resumo trágico da entidade masculina, o caro amante e o dissimulado assassino. Me ajude, Liana. Estou sozinha. Só você sabe. Não me deixe morrer...
Trecho do romance “Marcas de gentis predadores” – Perce Polegatto
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