“... se faz caminho ao andar”, título do
primeiro livro da autora, oferece ao leitor vinte e cinco textos. A crônica é
um gênero literário leve, com certas características específicas: sem personagens,
raramente com diálogos, descrições locais, temas mais ligados ao cotidiano e
acontecimentos atuais.
O título da primeira crônica, A Capital do Mundo, é a realização de um
sonho: viver em Londres. Há descrições delicadas e minuciosas, que já demonstram
a perspicácia da cronista. Nada lhe escapa: hábitos da cidade, novidades, os
habitantes do local que ela chama de “lugar cinza”, a bela Londres, os costumes
diferentes. A cronista e seu novo mundo.
O bom cronista tem antenas
especiais, olhos que veem além, visão de mundo mais ampla. Nada escapa a Aline,
em novo modus vivendi. O que também enriquece o texto sobremaneira, é a ousadia
do tom confessional da autora, diante de seu sonho realizado: viver em Londres.
A crônica seguinte, Aquela Mulher, é o mais belo retrato da
mãe, criatura notável, corajosa, mulher que enfrenta grandes obstáculos em
busca da realização de seus sonhos O outro texto traz o título de A Ilha da Esmeralda, focalizando sua
experiência, quando viveu na Irlanda.
Algo muito atraente no
livro são os enfoques diferentes, verdadeiro caleidoscópio, com uma grande
variedade de temas, como na crônica Bloqueio
na Escrita, texto personalíssimo e irônico. Aliás, uma característica da
jovem autora é a coragem, escrevendo o que lhe vai na alma, sem muita
preocupação linguística e/ou gramatical. Assim, em Um Ano Depois, a autora se permite usar algumas palavras em
linguagem popular e emprega a mistura de pronomes. No texto há descrições
interessantes sobre os diversos hábitos de vários povos com quem ela conviveu.
Em Olá, novamente, a cronista inicia com um delicioso diálogo com o
mês de dezembro, personalizando-o. O tempo passa, voa. Segue-se a crônica “Dia das Mães”, parte I e II, tema comum, mas abordado com originalidade pela
autora. Na primeira a enfática confissão
sobre sua mãe, “a melhor mãe do mundo” e na parte II, os vários tipos de mães,
de histórias, raças e status diferentes.
No intrigante títiulo “Haters gonna hate” (Odiadores irão
odiar), a crônica se inicia com a expressão inglesa, que é
interessantíssima pela rica interpretação que a autora faz do termo
“odiadores”. Seguem-se confissões pessoais. O que encanta nas crônicas de Aline
é o tom de sinceridade, tudo baseado em experiências pessoais. O tom confessional
e corajoso parece cada vez mais sincero.
As crônicas são variadíssimas, às
vezes não muito pessoais e até trágicas. Destacam-se também algumas de texto
jornalístico, como O Casamento Real,
muito interessante e com um final irônico.
As Seis Caixinhas, verdadeira e atraente alegoria filosófica.
A crônica que encerra o livro, Retrospectiva, é uma das mais pessoais,
plena de originalidade. Talvez por isso, que sua linguagem é mais solta,
liberta das amarras gramaticais, com uso de gírias.
As crônicas de Aline foram
publicadas primeiramente na revista Ponto & Vírgula, a única revista
literária de Ribeirão Preto, fundada e sob a direção geral de Irene Coimbra de
Oliveira Cláudio, edições primorosas, já conhecidas em vários Estados do Brasil
e cidades do exterior. A diagramação é de Aline Cláudio, que muitas vezes
enriquece a revista com fotos de grande beleza, nas contra-capas. Pura arte que
enriquece nosso mundo às vezes ausente de poesia e lirismo.
(*) Ely Vieitez
Lisboa é escritora, com catorze livros publicados (ensaios, contos, poemas).
Crítica literária, escreve em vários jornais de Ribeirão Preto, Minas Gerais e
eventualmente no tablóide Linguagem Viva, de São Paulo.
É autora do
romance epistolar Cartas a Cassandra.
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