O Mendigo- Irene Coimbra



O consultório estava vazio naquela tarde. Dr. Hanamaikai lia um livro, Lucy fazia um trabalho pra escola, e eu olhava as pessoas que passavam na rua. Para mim, cada uma delas representava um mundo desconhecido.
De repente um carro da polícia parou na porta. Um policial desceu com um mendigo apoiado em seu braço, andando como se arrastasse as pernas. Ao olhar para o soldado me lembrei da parábola do bom-samaritano. Ele se aproximou e pediu para falar com Dr. Hanamaikai.
- Dr. Hanamaikai, tem um policial aí querendo falar com o senhor.
- Mande-o entrar.
O policial entrou, ainda com o mendigo apoiado em seu braço e disse:
- Doutor, recolhemos esse mendigo com essa ferida horrível perto do olho. Ele deve estar nessa situação já há alguns dias, pois há bichos dentro da ferida. Pode ajudá-lo?
Dr. Hanamaikai aproximou-se do mendigo para examiná-lo e me aproximei também.
Fiquei impressionada com o que vi. Uma ferida enorme no canto do olho direito com bichos se revolvendo lá dentro. Cheirava mal. Lucy olhou e saiu. Senti muito nojo, mas não pude sair. Dr. Hanamaikai examinou a ferida, também com uma cara de nojo, mas procurou  agir com indiferença. Olhou pra mim e disse:
- Prepare o material de limpeza, vamos começar a tirar esses bichos. 
  Com uma pinça começou a retirá-los um a um. Eram muitos...  Senti tanto nojo…
Dr. Hanamaikai pediu pra eu chamar a Lucy, mas ela disse que não entrava lá, “nem morta”.
Ele não disse nada e continuamos o trabalho.
Finalmente acabamos de tirar os bichos. Dr. Hanamaikai fez um curativo, deu-lhe um medicamento e o mendigo se foi.
            Pra onde? O que aconteceu depois com ele? Nunca fiquei sabendo.

Irene Coimbra





















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