A dança da enceradeira- Irene Coimbra


          Ela precisava trabalhar para ajudar a família e continuar estudando, mas não estava fácil encontrar emprego. Procurava em lojas, escritórios, fábricas, mas nada conseguia. O único foi de empregada doméstica, para um casal que morava num sobrado.  
            Logo no primeiro dia, assim que entrou na casa, a patroa, pouco simpática, enumerou tudo que ela devia fazer e disse-lhe: 
            - Vou à padaria, mas não me demoro. Enquanto isso vá passando a enceradeira na casa, mas cuidado para não bater na cristaleira.  Qualquer problema chame meu marido, que está na oficina, no andar de baixo.
            E saiu.
            Deu uma olhada pelos cômodos da casa. O piso brilhava! Os móveis eram bonitos e a cristaleira, realmente, chamava a atenção.  
            Pegou a enceradeira, ligou o botão, mas não a inclinou como deveria ser feito. Ela soltou-se de suas mãos  e começou a girar. 
            Até então, ela nunca havia usado uma enceradeira. Sempre trabalhara em casa ajudando a mãe, mas a casa era simples e o piso só era varrido com vassoura caipira. 
            A enceradeira continuava girando,  indo de um lado para outro, sem parar. Já previa o momento do choque com a cristaleira.  Apavorou-se e entrou em desespero. Começou a gritar por socorro.  
            Ao ouvir os gritos, o patrão subiu correndo.
            Viu a enceradeira “dançando” sozinha, no meio da sala e ela, assustada ao lado da cristaleira, tentando protegê-la. 
            Ele riu, desligou-a, ensinou-a como usá-la e desceu para a oficina.  seu medo era tanto que mal conseguia segurá-la. 
            A patroa chegou naquele momento e, vendo-a naquela situação, disse:
            - Mas o que é isso? Você não sabe nem como usar uma enceradeira? 
            E a demitiu.
            Não sabia mesmo.
            Saiu dali, se sentindo, de certo modo, aliviada.
            Até hoje se lembro daquela “dança da enceradeira” e não consegue deixar de rir.





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