À espera de uma mesa- Fernanda Lima

 

     Estávamos, ainda, comemorando o aniversário do Zé Roberto, meu marido, e tomar um chope no Pinguim fazia parte das festividades – aliás, é uma tradição.
    Felizmente, ao adentrarmos na choperia, não havia nenhuma mesa no espaço de atendimento sob a responsabilidade do Maurício, o garçom que costumeiramente nos atende. Assim, ficamos de pé, próximos da porta de entrada, esperando desocupar uma mesa. Depois de alguns minutos, o Maurício veio ao nosso encontro e foi logo dizendo: “aquela senhora gente fina é minha cliente há muitos anos e disse que vocês podem sentar-se à mesa dela enquanto esperam por uma”. Hesitamos, mas aceitamos o convite. Ainda bem que aceitamos!
   Aproximamo-nos da mesa, agradecemos a gentileza e sentamos. Apresentamo-nos a ela e, naturalmente, a conversa fluiu. Conversávamos sobre assuntos variados com tanta desenvoltura, desprendimento, liberdade e aprazimento que dispensamos a nossa mesa quando ficou disponível. Permanecemos ali, naquela mesa, na companhia daquela senhora simpática e agradável. Estabeleceu-se uma conexão tão espontânea que me atrevo a dizer que aquele encontro estava marcado. Foi genuíno.
  Durante a conversação com Marilda, a “dona” da mesa, obtive respostas para muitas preocupações existenciais que faziam mo-rada na minha mente há tempos. Falamos, nós três, da vida e suas teias: altos e baixos, perdas e ganhos, tristezas e alegrias, fé, família, amigos, trabalho, educação, retidão de caráter, coragem, superação. O mais interessante é que dissemos tantas coisas sem sermos invasivos um com o outro. Simplesmente falamos.
    A certa altura, descobrimos que tínhamos até conhecidos e amigos em comum. Vejam só: noutra mesa, estavam Dona Maria e seu marido, Senhor Eurípedes, ambos amigos do Zé Roberto e da Marilda. Tem mais: Dona Candinha, mãe da Marilda, era amiga da Dona Nay, avó materna de Vanessa, minha melhor amiga desde a infância. Marilda e Célia, filha da Dona Nay e tia da Vanessa, estudaram juntas durante todo o primário semelhantemente a Vanessa e eu que nos conhecemos no primário. A minha tese se confirmou: o acaso não existe.
    Permanecemos no Pinguim das 11:30 até às 16:00 horas aproximadamente. Muitas horas. Chopes sorvidos, nem tantos assim. O que me embriagou foi a presença de espírito daquela mulher e o que ela me transferiu naquele período – às vezes, Deus atende às nossas súplicas, inesperadamente, e envia anjos ao nosso encontro para aquietar o nosso coração e serenar os nossos pensamentos.
    Trocamos telefones. A saideira foi um cafezinho. Despedimo-nos com o compromisso de haver o próximo encontro.





 

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