O ABRAÇO- Fernanda Ripamonte

    Jamais esquecerei aquele abraço. Era um misto de medo e de desespero, mas, do jeito que ele me falou, com sua voz forte e segura, fez com que eu acreditasse: - Eu vou voltar. E me apertou em seus braços, disse muitas coisas das quais não me lembro e, somente sua promessa ficou registrada em minha alma: - Eu vou voltar...
    Minhas lágrimas rolaram, não desejei que ninguém me confortasse, o sofrimento foi insuportável. Dias antes estávamos juntos a comemorar meu aniversário, tenho comigo, até hoje, o cordão de ouro com a cruz de rubi e na memória, a imagem daquele português tão bonito.
    Minha mãe me acolheu e tentou me acalmar. Foi inútil. Dizem que foram dias sem comer e quase sem dormir, e não somente eu, mas, as pessoas da família que também sofreram com a partida dele.
    Chegou uma jardineira, vimos um homem acomodado no banco de trás e ele foi ao lado do motorista. Quando partiram, dizem que corri para a rua e gritava muito, e chorei tanto. A maior dor da minha vida.
    Eu acabara de completar seis anos de idade.
    Meu pai nunca mais voltou.
  Seu confinamento durou trinta anos, somente terminando com sua libertação, no dia de sua morte.
    A doença não lhe imprimiu sequela alguma, era um português tão bonito.
    Estivemos juntos por algumas poucas dez vezes de visitas, quando lhe foi permitido viajar.
    Amor maior nunca houve.







 

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