UM CANTO À LÍNGUA- João Nery


Gosto da palavra em seu estado bruto
e de saber o seu querer não dizer nada.
Gosto da indulgência dos morfemas
na aridez de um semantema inútil.

Gosto dos vocábulos que comem gente
e de ouvir das conjunções o grito intruso.
Gosto da infidelidade do substantivo
na transcendência atávica de seu uso.

Gosto da sobriedade dos advérbios
e dos verbos as perífrases indiscretas.
Gosto da consoante inexata e muda
na inconstância prosódica dos poetas.

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