Volta ao passado- Heloísa Martins Alves

   Mary abre o Facebook, passeia pelas redes sociais e volta ao passado. Curiosa (trinta anos se passaram), para saber por onde andaria aquele que um dia tivera uma importância muito grande na sua vida, fizera parte dela, fora seu companheiro, como se diz, “dormira com o inimigo.”
Ele era fera, às vezes, doce. Um conflito muito grande era travado dentro do seu eu misógino. Um banquete para um psiquiatra.
    – Esse é Alfred.
    Assusta-se com uma foto postada por July, sua filha do primeiro casamento. Filha que não era tão amada, sempre incompreendida, por ter alma de artista, mas, presente nesse momento de dor. Um ser humano muito melhor do que todos pensavam. A mais equilibrada parecia ter sentimentos nobres. Afinal era seu pai. A foto daquele homem que era galante, sedutor o mais belo Don Juan, agora tão frágil, quase um morto vivo.
    Mary sentiu um misto de pena e pensou: “A morte está rondando um passado desregrado e negro, ou é a remissão de todos os pecados pedindo perdão para que sua passagem não seja tão difícil.”
    Pela foto imaginou um derrame com grandes sequelas, cadeira de rodas e um falar de grunhidos. Seria castigo?
    O uísque do passado já não fazia mais parte disso. As festas, os falsos amigos, esse o pensamento de Mary. Tantas pessoas ele fez sofrer, mas, aquela que julgavam maluca, a única presente. July é só amor. Será que conseguiu perdoá-lo? Ora na sua igreja e pede orações, nas mídias sociais, pela recuperação de seu “pai pródigo”. O tempo não volta. Em uma análise profunda, talvez seja essa a sua doce vingança, expondo para o mundo, nas redes sociais, aquele que foi águia, agora um espectro com tubos no nariz, olhos fechados. Hoje é uma sombra do passado. Um pássaro caído.
    Em BEVERLY HILLS, imagina, nenhum vizinho o visitou na velha e decaída mansão. Todos se afastaram. Vida que segue. Não quis mais ler nada daquela postagem. Deletou toda a curiosidade de saber notícias que foram silenciadas por três décadas. Perdoou? Curou-se?
Mary fez as pazes com o passado. Esse tempo não existiu. Deixou um vácuo de dez anos e recomeçou a partir da separação. Afinal essa história não lhe pertence mais.

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