Galo Malandro- José Antônio de Azevedo

    Na família dos galináceos, em plena selva amazônica, encravada a beira de um grande rio, existe rencas de aves no terreiro de uma pousada florestal. Por ser o rio Teles Pires bastante piscoso atrai pescadores de todo o Brasil.
    Dentre os atraídos foram conhecer e pescar neste rio um grupo de naturalistas. Um deles teve duas finalidades para a viagem: uma a de pescar para espantar o stress e a outra de anotar personagens, cenários e episódios para cronicar. Sua primeira observação interessante foi a do comportamento das aves no terreiro em um clima agradável após uma forte chuva. Na verdade o que mais lhe chamou atenção foi como os galináceos fazem amor. Neste episódio entram em cena o Galo Malandro, O Galo Cristudo, as Galinhas Caipiras, as Galinhas D’ángola e o Galo Músico.
    O ato sexual destas aves ocorre através da junção das cloacas do macho com a da fêmea e não dura mais que 5 segundos, conforme a excitação do macho. Uma vez coberta a galinha o macho, para se equilibrar em cima dela, bica-lhe a cabeça e segura até o final. Após descer os dois se arrepiam sacodem as penas, dá um gingado para os lados e separam-se. Quando não há outro galo por perto o macho ainda dá o prazer de esporar a sua amada arrastando as asas e volteando em torno, guturando na sua onomatopeia: có có có có có... có có có có có có...
    Como em um grupo de pessoas em quaisquer atividades há um líder no terreiro desta Pousada, também. O Galo Cristudo comanda as galinhas e mais dois galos em tudo que possa ocorrer na harmonia das aves. O melhor e mais sagrado comportamento é o amor sexual. O galo Malandro é louco por galinhas tanto as caipiras como as d’ángola. Acontece que embora sejam galinhas as d’ángola têm também a sua espécie macho para se acasalarem, mas o Galo Malandro não respeita esta distinção.
Logo após o amanhecer as galinhas levantam do poleiro batem as asas e pulam no terreiro. O Galo Malandro desce primeiro e enquanto o Galo Cristudo ainda fica ressonando ele vai pegando uma por uma as galinhas que vão descendo. No ritual do amor as preliminares estimulantes acontecem com o galo correndo atrás da galinha em zig zag, vai p’ra lá, vem p’ra cá, dá um drible aqui outro alí passando pelo meio da renca até a galinha cansar. Ela agacha ele sobe em cima e cobre-a por instantes não superior a 5 segundos. Entretanto o Galo Malandro louco por galinhas não obedece este ritual de manhã. À medida que as galinhas vão pulando no chão ele pula em cima da primeira, cumpre a sua obrigação de macho, imediatamente larga a anterior e pula na próxima em série como na esteira de uma fábrica de carro, sem tempo para mais nada. Enquanto o Galo Músico não desce o Malandro vai satisfazendo a sua tara. Os dois no chão dividem a tarefa harmoniosamente um cobrindo e o outro afagando as galinhas.
Enquanto isto o Galo Cristudo desperta meio solonento, bate as asas, canta e pula no chão, acabando com a alegria dos dois companheiros. Estando o comandante no terreiro as galinhas obedecem o ritual de correr para o Galo Malandro perseguir correndo atrás até passarem perto do líder. A galinha pára o Galo Cristudo aplica um “chega p’ra lá” no Malandro, separando-os. O Cristudo permanece em volta da galinha, esporando e arrastando a asa esquerda de um lado e depois a direita á sua maneira de cortejá-la. O Galo Malandro saí por outro lado, desconfiado, mancando, esticando o pescoço para olhar em volta, por todos os lados, com a asa esquerda derreada e  passos do urubu vadio; cararejando como que alardear uma injustiça. Mas logo ele se refaz, acerta o passo, ajeita a asa, estica o pescoço avistando o Galo Músico arrulhando uma galinha para o companheiro. Como quê numa rotina parte para cima da nova galinha estimulada e novamente o Galo Cristudo arrefece-lhe o apetite.    
    Interessante é o fato de estar escurraçado pelo Gato Cristudo o Malandro vendo-se alijado das suas parceiras, galinhas caipiras, parte p’ra cima das galinhas d’ángola. Estas por sua vez não sendo compatíveis com a cadeia da raça caipira, por sua própria natureza não se harmonizam. Entretanto, o Galo Malandro mesmo assim não desiste. Tenta correr atrás da galinha d’ángola, mas esta fica estática e ele perde a graça, mas teimoso que é sobe em cima tentando se equilibrar, mas não consegue, bica na cabeça da fêmea, mas não segura. Enquanto isto todas as galinhas d’ángola do terreiro, machos e fêmeas, juntam-se em defesa da sua espécie para linchar o estuprador. Como no escurraçamento do Galo Cristudo, o Malandro se esquiva sai de fininho esconjurando a má sorte. 
    Se as galinhas aceitarem e o Cristudo deixar o Malandro depois de cobrir uma já sai correndo atrás de outra, sucessivamente sem se cansar. 



Comentários