Luz que acende, luz que apaga,
brincando de pique no ventre da noite,
acende um cigarro, apaga uma vida,
no silêncio esquisito da Rua do Estácio.
Mulher magra, mulher pintada,
lábios sangrentos, costas de fora,
de pernas de fora , de braços que chamam,
correndo do homem, fugindo da chuva.
Mas chuva não molha
Na Rua do Estácio.
Chuva miúda, chuva serena,
Chuva que para na altura do poste,
Refratando murmúrios, ocultando sons,
Com medo talvez de chegar junto ao chão.
Mas chuva não chega
Na Rua do Estácio.
Gente escondendo nos cantos da noite,
Escapando da luz, fugindo das sombras,
cortando os olhos, mordendo os lábios,
que esperam sorrir, que querem chorar
Mas a chuva não chora
Na Rua do Estácio.
Abre a janela, cerra a cortina,
Acenando de longe, cantando a canção,
Penetrando no éter, varando a chuva,
Desvendando a noite, procurando o dia.
Mas o dia não chega
Na Rua do Estádio.
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“Sobre o poema tenho algumas lembranças do tempo que morei , (durante um ano), na Rua Machado Coelho que ligava o Mangue com a Rua do Estácio/RJ. Três quarteirões. Um lugar muito triste. Eram os dias e as noites de 1960. Nas imediações (cem metros) ficava, de um lado a Penitenciária, do outro lado a zona da mais baixa prostituição. Muitos ratos pelas ruas. Pessoas tristes e solitárias. Para cima do Largo iniciava-se a Paulo de Frontin e o início da Tijuca. O Noel Rosa e outros se notabilizaram nas imediações com suas músicas. Nos dias de hoje ali foi assassinada a Vereadora Marielle e seu motorista.
Aqui tentei transformar em versos o panorama noturno do local numa noite com um chuvisco em torno da luz do poste. Talvez a única luz que andava por ali.”
Sérgio Roxo da Fonseca
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