Artigo sobre o livro, “O tiro pela culatra”, de Anníbal Agusto Gama, pelo Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte



“O tiro pela culatra”, o quarto livro de Anníbal Augusto Gama, lançado pela FUNPEC-Editora, é a reunião de alguns de seus contos que, efetivamente, contam uma estória. Há neles uma intriga, ainda que breve, e personagens definidos.  
Os protagonistas das narrativas do autor são geralmente da classe média. Dela, que se vê deslocada por toda sorte de aventuras e desventuras e já não se acha em nenhum lugar, mas em todos, e se surpreende num mundo de espantos que não é o seu. Por isso mesmo, essa gente está confusa, o que se reflete nas indagações sem respostas com que, não raro, ao final dos contos, tudo pode ser e não ser. E fica a cargo do leitor achar sua própria resposta, ou nenhuma. Daí também alguns textos em que se incorre no fantástico ou no absurdo. Haveria neles até mesmo uma linha circular, e no fim repete o início, num labirinto em que todos se movem para permanecer no mesmo lugar.
A maioria dos contos são narrados na primeira pessoa do singular. O sujeito que os viveu se apalpa, e isto pode dar, talvez, a impressão de maior veracidade, o que torna as estórias ainda mais inexplicáveis.
As coisas cotidianas, os fatos aparentemente comuns, verdadeiramente nunca o são. Porque, quando se abre uma porta, nunca o que está lá fora, as casas, as ruas, as árvores, se são as mesmas, jamais são as mesmas.
A estória breve, de poucas páginas, é própria também da nossa época, acabados os romances fluviais de quinhentas, mil páginas, ou mais, em vários volumes.
De outra parte, o autor temperou os seus textos com alguma ironia e humor. Porque arrastamos, com nossa sombra, o lado ridículo, o lado ridículo, cômico, de todos nós, que nos julgamos excepcionais, e não somos. E o que nos salva é o humor. Até mesmo o humor negro. Afinal somos todos pobres diabos atormentados por diabos ainda mais pobres.
De qualquer maneira, os contos estão aí e parece-nos que não destoam dos outros livros do autor, publicados por esta editora: Manual para Aprendiz de Fantasma, A Volta de Simão Bacamarte e Cinquenta Anos Falando Sozinho.
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Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte, docente aposentado da Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto, e fundador da FUNPEC/RP (Fundação de Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto)


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