“Somos seres espirituais, vivendo experiências materialistas, transitórias e passageiras. Passado, presente e futuro são apenas ilusões ancoradas pela nossa consciência, “boiando” na memória da eternidade. A nossa vida é como uma pequena ilha isolada no oceano infinito do Universo. Um sopro na eternidade de nossas almas”. ABSG
Quando uma tragédia ocorre, o pessimismo toma conta de nós, o questionamento é inevitável. Por que aconteceu? De quem é a culpa? Qual a causa de tanto desamor? De tanta dor?
Por que, atualmente, os valores éticos de fraternidade, solidariedade e respeito estão tão desconsiderados? Difícil entender. Mais difícil ainda é aceitar. Dificílimo superar.
Sobretudo quando se trata de vida humana... Vidas que se perdem nas UTIs dos hospitais, sem que haja nenhuma explicação solidária, respeitosa das equipes médicas que cuidam dos nossos entes queridos que partem inexplicavelmente.
Você partiu meu irmão, sem nenhuma explicação médica à família, partiu sim, mas deixou-nos o perfume da sua passagem por esta terra tão cheia de injustiça e desamor...
Perdido o seu dono, a casa da Rua Barão de Monjardim, 137, que você adquiriu para sua morada e a instalação do Brechó das Artes, com a ternura do seu coração, transformou-se numa casa morta, o invólucro de um corpo, cessadas suas batidas de coração.
Desolada, estranhamente silenciosa, ela parece esperar. A quietude é uma coisa física, inexplicável, sufocando como um peso, como se fosse um punhal de prata cravado no coração, fazendo-o sangrar lentamente, gota a gota...
Nenhum rumor de passos, de vozes, de risadas, de baru-lhos na cozinha. Nenhuma Carmen Miranda, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Edith Piaf, Mercedes SOSA, Yma Sumac, Amália Rodrigues ou Nâna Caimmi cantarolando de maneira confortadora no aparelho de som sobre a cômoda de seu quarto. Portas fechadas, permanecendo fechadas; antes elas sempre ficavam abertas, permitindo vislumbres de roupas penduradas, quadros nas paredes, flores nas jarras, rajadas de ar soprando pelas janelas abertas, o cheiro suave que era o próprio Alvim.
Agora apenas portas fechadas! Na parte externa, não é diferente. Sua cadeira de leitura vazia junto às plantas no terraço. Suas plantas pelo corredor do quintal, plantadas que foram por suas mãos e o carinho do seu coração, silenciosamente choram e anseiam por sua presença, por seu amor, por suas mãos... Na cozinha, o fogão apagado e fechado. Não mais conversas amistosas, risos, ensaios de peças teatrais, leituras dramáticas, abraços cálidos e espontâneos...
No mundo em que Alvim vivera, existira, respirara, ouvira e recordara, tinha sido possível acreditar que nada tão terrível, um dia, pudesse acontecer. Ou que algo errado ocorresse. E, se ocorresse... Se Alvim passasse por isso... Então haveria meios de enfrentar, de aceitar, de recusar-se a admitir a derrota.
Alvim estava silencioso, apenas gemia, ao longo do dia, naquela tarde espectral, ao pôr do sol de uma sexta-feira, 1º de junho de 2007, precisamente às 19h30 no Centro Integrado de Atenção à Saúde (Cias) da Unimed em Vitória/ES. Ele partiu ao som do silêncio.
Por um insano instante, o óbvio era demasiado horripilante e final para ser considerado. No entanto, o impensável acontecera.
Ele se fora... Sem ruídos. Silenciosamente...
O insuportável é atravessar cada dia. Dias em que, anteriormente, nunca eram longos o bastante para conter suas várias atividades, seus sonhos... Agora se estendem à eternidade... À eternidade do silêncio!
“O silêncio das vozes será a mesma coisa que as vozes do silêncio?”
(Alvim Barbosa).
Do Livro “Silêncio Verde Vida e Obra de Alvim Barbosa” (Agosto de 2013)
Comentários
Enviar um comentário